Hoje celebramos
a Entrada Triunfal de nosso Senhor, o Messias prometido, o Filho do Deus Vivo,
em Jerusalém, a “Cidade do Grande Rei” (Sl 48.2; Mt 5.35).
Aproximava-se
o momento da celebração da grande festa do povo de Israel, o “Pessach”( פֶּסַח
- traduzido como “Páscoa”). A Páscoa, cuja origem etimológica vem de “passar
por cima”, celebrava a libertação do cativeiro do Egito (conforme narrado no
livro do Êxodo). No entanto, como o próprio nome expressa, possuía um
significado espiritual mais profundo. O Anjo da Morte “passara sobre”, deixando
incólumes, os lares protegidos pela marca do sangue do cordeiro sacrificado(Ex
12.1-30). A marca do “tav”, formada por um travessão vertical e outro
horizontal. A libertação do mal, o sangue protetor e o perdão divino se fizeram
presentes nessa ocasião.
O Pessach era
uma das três festas nas quais todos os judeus eram obrigados a fazer uma visita
a capital, Jerusalém. Num esquema organizado de revezamento, para evitar
confusões e superlotação, Jesus era
acompanhado por multidões que faziam a peregrinação, especialmente provenientes
da Galileia, região pobre e marginalizada pelos cosmopolitas da Judeia.
Nosso Senhor
montou num jumentinho, cumprindo a profecia de Zacarias(Zc 9.9). Outra alusão do Antigo Testamento é a bênção
de Jacó sobre seu filho Judá, de quem Jesus foi descendente segundo a carne (Gn
49.10-11). O jumento representava paz e humildade, ao contrário do cavalo,
animal ligado ao militarismo e ao poder. A requisição de um animal, no entanto,
era uma prerrogativa de governantes. A exigência de um animal nunca antes
montado, exigência de reis.
Impressionados
pela cura do cego Bartimeu, que clamou ao “Filho de Davi” (Mc 10.46-52), entre
tantos sinais operados, os peregrinos saudaram Jesus com “Hosanas!”, expressão
de origem hebraica, usada em certos
ritos do Templo. A princípio, tinha um tom de apelo, “Salva-nos!”. Mas
acabou por se tornar uma saudação - algo
como “Salve!”- intimamente ligada ao
Messias que havia de vir.
“Bendito é o
que vem em nome do Senhor!”- citação extraída do Salmo 118, usado em contextos
festivos e de ação de graças. Os habitantes de Jerusalém recebiam com esse
brado os peregrinos que subiam, as “Tribos do Senhor”, para adorar no Templo
(Sl 122.4). Do mesmo modo que a expressão “Hosana!”, com o passar dos séculos
converteu-se numa saudação messiânica.
O povo de
Jerusalém era soberbo pela “linhagem pura”, pela presença do Templo, pelos
sacerdotes e doutores, pela grandeza da cidade. Porém, pisado pelos
conquistadores romanos, que impuseram um rei fantoche, manipulavam o
sumo-sacerdote, e esmagavam qualquer rebelião com vigor. Olharam com
desconfiança o “Messias caipira” ovacionado pela gentalha marginal e pelas
crianças da cidade (Mt 21.16). Ramos festivos foram espalhados, como nos
rituais religiosos e desfiles militares. Júbilo, e clamores de vitória
ressoavam. Um novo tipo de Reino emergia. Um Reino de paz, que em nada lembrava
os golpes dos pilos, o zunir dos gládios, e os tiros das catapultas, com corpos
espalhados, fogo e sangue. Um Reino de justiça, contrastando com a venda de sentenças pelos juízes, o nepotismo dos poderosos, a hipocrisia dos sacerdotes, e a
violência brutal do populacho. Um Reino de Amor, em violento e irreconciliável
contraste com a brutalidade assassina dos religiosos sedentos de sangue, das multidões ignorantes - massas de manobra-, dos
políticos que preferiam lavar as mãos.
As trevas não
podem conviver com a luz. Fariseus, saduceus e
herodianos se aproximam. Para se livrar desse Jesus (ao qual já haviam
chamado de louco, bêbado, endemoniado, glutão, pecador, mentiroso,
blasfemador) esqueceriam temporariamente suas diferenças. Os dias seguintes
determinariam o curso da ação. Poderia esse atrevido avançar ainda mais na
afronta aos “ungidos do Senhor” e “autoridades constituídas”?
Oremos com as palavras do “Book
of Occasional Services”, da “The Reformed Epsicopal Church”:
“Ó Senhor Jesus, a quem as multidões em Jerusalém em sua primeira vinda
saudaram como seu Rei, espalhando em seu caminho palmas e ramos de oliveira:
Concedei que nós, firmes na obediência à tua vontade soberana, possamos
novamente preparar o caminho para a tua vinda. Amém.”
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