Um cristão evangélico não pode basear a sua fé em sentimentos, argumentos filosóficos, conduta moral ou obediência a determinadas regras. Todos esses caminhos, comuns nas diversas religiões, induzem a um emaranhado de amargas incertezas1. A fé, por sua vez, abraça a revelação divina. Sobre o fundamento de Jesus Cristo, podemos edificar um relacionamento real com Deus.
Ateus, humanistas, anabatistas, islâmicos, judeus, racionalistas,"evangélicos conversionistas"3 e o "velho Adão" estão contra mim. Ah, o Santo Batismo! Um dos poucos temas que pode suscitar tão variada reunião de críticos contra um pobre luterano! Não dou a mínima para os críticos. Jamais trocarei as palavras de meu Senhor Jesus Cristo pelas cogitações humanas. Cri e fui batizado, portanto, estou salvo (Marcos 16.16). Fui batizado em nome da Trindade, portanto, sou discípulo de Cristo (Mateus 28.19). Fui lavado pela água, acompanhada da Palavra, sendo assim regenerado (Efésios 5.26; Tito 3.4-6) . Fui batizado em nome do Senhor, recebendo o perdão dos pecados e o dom do Espírito Santo (Atos 2.37-39). Fui batizado, por isso sou Filho Amado do Pai Celeste!
Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias (1Coríntios 1.27). Os olhos veem apenas água comum — mas a Palavra de Deus, associada água, faz o sacramento da regeneração. De semelhante modo, sobre o altar, os olhos contemplam apenas o pão e o vinho — mas as Palavras de Cristo garantem que os seus reais Corpo e Sangue estão presentes, como na Palestina do século I (Mateus 26.26-28; Marcos 14.22-24; Lucas 22.19-20; 1Coríntios 11.23-25).
Devo confessar uma coisa: há treze anos, quando recebi o banho regenerador do Santo Batismo, não senti nenhuma mudança existencial em minha vida. Para falar a verdade, desde aquela época, passei boa parte da minha vida afundado na tristeza, na depressão, na angústia e no pecado. Há cerca de um ano e meio, passei por uma dramática experiência de conversão, que mudou completamente a minha vida. Caso eu focasse em meus sentimentos e minha experiência, poderia afirmar que ela foi o "grande marco" da minha vida. Mas não posso contradizer as Sagradas Escrituras, cujos ensinamentos ardem em meu coração.4
Na verdade, durante todos esses anos, eu fora um filho amado de Deus e de sua Igreja. A minha ignorância, os meus erros e a minha fraqueza, porém, prejudicaram a minha percepção dos fatos. Deus não estava distante de mim. Era eu que, muitas vezes, fugia dele. Por esta razão, mesmo nos períodos mais sombrios, a sua Palavra me preservou e sustentou. Por fim, de acordo com os insondáveis desígnios divinos, contemplei a plena liberdade que me havia sido concedida. Retornei ao meu Batismo.
Dou graças a Deus por não lembrar a data exata da minha recente conversão (mudança de caminho). Eu jamais poderia colocar a minha experiência acima da Palavra de Deus. A transformação da minha vida, juntamente com todas as bênçãos e milagres que recebi desde então, estão fundamentadas naquilo ocorreu em 02 de dezembro de 2006. 5
Notas e Referências:
1. O pequeno livro Espiritualidade da Cruz (VEITH JR, Gene E.) trata o tema de forma magistral.
2. Confira a quarta parte do Catecismo Menor de Martim Lutero.
3. Por não considerar nenhum termo existente adequado, criei esta expressão. Com ela me refiro aos movimentos religiosos protestantes cuja ênfase está na experiência de conversão. Segundo tais grupos, a pessoa só pode se considerar cristã ao viver uma conversão radical e abrupta, com data e local definidos. Também ensinam que tal experiência deve ser acompanhadas por fortes sentimentos e pelo ato de "aceitar Jesus como Senhor e Salvador".
4. Percebemos que os argumentos a favor do rebatismo são inválidos até mesmo no aspecto pastoral. Quando uma pessoa cristã, legitimamente batizada, vai atrás de outro "marco de fé" (ou até mesmo um "segundo" batismo), devemos exortá-la a confiar mais em Deus do que nos seus próprios sentimentos (Cf. Isaías 55.8; Mateus 24.35 1Pedro 1.25; 1João 3.20). Tentar consolar uma consciência aflita com ilusões é um gravíssimo pecado. Jamais seremos mais sábios ou amorosos do que Deus.
5. Por ter sido criado em uma tradição protestante credobatista, recebi o sacramento aos 13 anos, quando era capaz de "tomar a decisão". Hoje reconheço que e professo que "(... )também se devem batizar crianças, as quais, pelo batismo, são entregues a Deus e a ele se tornam agradáveis." (Artigo IX da Confissão de Augsburgo).