Ano A (2020)- Lecionário Comum Revisado
Leituras: Salmo 104.24-34; Atos 2. 1-21; 1Coríntios 12.3-13
“Uma das coisas mais perigosas
que a Igreja pode pedir é "Vem, Espírito Santo". Porque ele vem
mesmo.” (Rev. Gyordano M. Brasilino)
O apóstolo
Paulo afirma que, na cruz, o muro da separação foi derrubado (Ef 2). Tanto o
abismo entre Deus e o homem (Rm 5.10), quanto as divisões entre os próprios
homens, foram aniquiladas pela onipotente impotência da morte e glorificação do
Senhor. Todos nós pecamos e éramos inúteis. Todos foram nivelados como indignos
(Rm 3). No madeiro da cruz, a maldição original adquirida no madeiro da árvore
do Éden, foi desfeita. Havíamos conquistado a paz com Deus.
No entanto,
ainda estávamos divididos. Primeiramente, entre os judeus, povo a quem foi
concedida a Antiga Aliança (Rm 9.1-55); e os demais povos, que embora
possuíssem parcialmente a graça divina (At 17.23-28), não tinham o privilégio
da comunhão e do sacerdócio. Esses povos, por sua vez, viviam em constantes
guerras e conflitos. Sob as bênçãos de deuses e espíritos diversos, contando
com sacrifícios sangrentos e oráculos proféticos, os homens matavam e pilhavam
seus semelhantes. Os gregos desprezavam os estrangeiros sob a denominação de
“bárbaros”. Povos asiáticos e europeus olhavam com desdém uns aos outros.
Na narrativa
alegórica da Torre de Babel (Gn 11.1-9), a tentativa de alcançar o Paraíso e o
Bem pela própria virtude e força (teologia da glória), resultou na dispersão e
divisão entre os homens. Ninguém entendia ninguém. As palavras tornaram-se mal
interpretadas(ou não-interpretadas). Éramos inimigos e hostis uns aos outros.
Essa autoglorificação e autonomia humana, semente maligna de Caim, a vil Cidade
dos Homens (utilizando a linguagem de Santo Agostinho), possui várias facetas
nas Sagradas Escrituras: O poder de Faraó, a Babilônia, os ídolos. Até mesmo
dentro do Povo Eleito, a teologia da glória mostra sua face satânica. Seja no
Bezerro de Ouro do deserto, na veste sacerdotal de Gideão (Jz 8.27), nos dois bezerros de Jeroboão (1Re 12.28-29),
nos falsos profetas de Judá, na presunção dos fariseus (Lc 18. 9-14), na heresia
Pelagiana do séc. V, no Papado romano dos séculos XV e XVI, na doutina do
Destino Manifesto, na Teologia do Domínio e, mais recentemente, na chamada
“Teologia da Prosperidade”, o desejo de ser igual a Deus, inspirado pela Serpente (Gn 3), move os corações corrompidos pelo pecado.
Em
Pentecostes, um dos sinais visíveis da descida do Espírito Santo foi a restauração
da comunhão pelas línguas (At 2). Povos de procedências e culturas diversas podiam entender os
humildes galileus falando em suas próprias línguas. O Espírito veio dividir
barreiras. Fazer-nos irmãos. Tendo paz com Deus pela Paixão, temos a paz com o
próximo pelo Pentecostes.
E do que
falavam? Não eram "palavras ao vento" (1Co 13-14). Falavam das grandezas de Deus. Do seu amor infinito, da sua bondade, de seu
sacrifício por nós (1Co 1.23), o mistério oculto desde tempos passados, que agora nos fora revelado (Cl 1.26) Da possibilidade de todos se achegarem a Ele novamente. Tão
somente, creiam e sejam batizados (Mc 16.16).
Sob esse fardo
leve e jugo suave, todos somos convidados a vir a Cristo. Indignos e falhos,
somos chamados à santificação; distantes, somos chamados à comunhão; egoístas,
somos chamados à partilha; diferentes, somos chamados `à unidade. As muralhas e convenções mundanas caem por terra. A ordem é invertida. O Onipotente Espírito age como lhe apraz, qual um vento impetuoso, um furação divino. Cessam as guerras (Is 2.4), é feita a justiça aos fracos (Is 11.4), os poderosos são derrubados e os humildes exaltados (Lc 1.46-55), as minorias e os "diferentes", vítimas de preconceitos e ódio são declaradas o que sempre foram na realidade: iguais a nós (Jo 4.9; Lc 10.30-37).
Provenientes
de diversas tradições culturais, filosóficas, classes sociais, povos, biótipos
e costumes, independente de idade, gênero ou fatores externos (Gl 3.28), vamos nos unir em torno da Cruz de Cristo (Gl 6.14), recebendo a
Palavra e os Sacramentos, e partilhando o amor e a justiça, em sincero
arrependimento de nossos erros e pecados.
"Ó
Santo Espírito do Senhor,
dá-nos
fé e verdadeiro amor!
Queiras
confortar-nos
em
nossa vida;
tua
igreja mantém unida.
Kyrie
eleison."
(Hinos do Povo de Deus-Nº 82 - M. Lutero, baseado numa estrofe medieval)