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sábado, 30 de maio de 2020

Pentecostes: Vem, Espírito Santo!



Ano A (2020)- Lecionário Comum Revisado
Leituras: Salmo 104.24-34; Atos 2. 1-21; 1Coríntios 12.3-13


“Uma das coisas mais perigosas que a Igreja pode pedir é "Vem, Espírito Santo". Porque ele vem mesmo.” (Rev. Gyordano M. Brasilino)


O apóstolo Paulo afirma que, na cruz, o muro da separação foi derrubado (Ef 2). Tanto o abismo entre Deus e o homem (Rm 5.10), quanto as divisões entre os próprios homens, foram aniquiladas pela onipotente impotência da morte e glorificação do Senhor. Todos nós pecamos e éramos inúteis. Todos foram nivelados como indignos (Rm 3). No madeiro da cruz, a maldição original adquirida no madeiro da árvore do Éden, foi desfeita. Havíamos conquistado a paz com Deus.

No entanto, ainda estávamos divididos. Primeiramente, entre os judeus, povo a quem foi concedida a Antiga Aliança (Rm 9.1-55); e os demais povos, que embora possuíssem parcialmente a graça divina (At 17.23-28), não tinham o privilégio da comunhão e do sacerdócio. Esses povos, por sua vez, viviam em constantes guerras e conflitos. Sob as bênçãos de deuses e espíritos diversos, contando com sacrifícios sangrentos e oráculos proféticos, os homens matavam e pilhavam seus semelhantes. Os gregos desprezavam os estrangeiros sob a denominação de “bárbaros”. Povos asiáticos e europeus olhavam com desdém uns aos outros.

Na narrativa alegórica da Torre de Babel (Gn 11.1-9), a tentativa de alcançar o Paraíso e o Bem pela própria virtude e força (teologia da glória), resultou na dispersão e divisão entre os homens. Ninguém entendia ninguém. As palavras tornaram-se mal interpretadas(ou não-interpretadas). Éramos inimigos e hostis uns aos outros. Essa autoglorificação e autonomia humana, semente maligna de Caim, a vil Cidade dos Homens (utilizando a linguagem de Santo Agostinho), possui várias facetas nas Sagradas Escrituras: O poder de Faraó, a Babilônia, os ídolos. Até mesmo dentro do Povo Eleito, a  teologia da glória mostra sua face satânica. Seja no Bezerro de Ouro do deserto, na veste sacerdotal de Gideão (Jz 8.27),  nos dois bezerros de Jeroboão (1Re 12.28-29), nos falsos profetas de Judá, na presunção dos fariseus (Lc 18. 9-14), na heresia Pelagiana do séc. V, no Papado romano dos séculos XV e XVI, na doutina do Destino Manifesto, na Teologia do Domínio e, mais recentemente, na chamada “Teologia da Prosperidade”, o desejo de ser igual a Deus, inspirado pela Serpente (Gn 3), move os corações corrompidos pelo pecado.

Em Pentecostes, um dos sinais visíveis da descida do Espírito Santo foi a restauração da comunhão pelas línguas (At 2). Povos de procedências e culturas diversas podiam entender os humildes galileus falando em suas próprias línguas. O Espírito veio dividir barreiras. Fazer-nos irmãos. Tendo paz com Deus pela Paixão, temos a paz com o próximo pelo Pentecostes.

E do que falavam? Não eram "palavras ao vento" (1Co 13-14). Falavam das grandezas de Deus. Do seu amor infinito, da sua bondade, de seu sacrifício por nós (1Co 1.23), o mistério oculto desde tempos passados, que agora nos fora revelado (Cl 1.26) Da possibilidade de todos se achegarem a Ele novamente. Tão somente, creiam e sejam batizados (Mc 16.16).

Sob esse fardo leve e jugo suave, todos somos convidados a vir a Cristo. Indignos e falhos, somos chamados à santificação; distantes, somos chamados à comunhão; egoístas, somos chamados à partilha; diferentes, somos chamados `à unidade. As muralhas e convenções mundanas caem por terra. A ordem é invertida. O Onipotente Espírito age como lhe apraz, qual um vento impetuoso, um furação divino. Cessam as guerras (Is 2.4), é feita a justiça aos fracos (Is 11.4), os poderosos são derrubados e os humildes exaltados (Lc 1.46-55), as minorias e os "diferentes", vítimas de preconceitos e ódio são declaradas o que sempre foram na realidade: iguais a nós (Jo 4.9; Lc 10.30-37).

Provenientes de diversas tradições culturais, filosóficas, classes sociais, povos, biótipos e costumes, independente de idade, gênero ou fatores externos (Gl 3.28), vamos nos  unir em torno da Cruz de Cristo (Gl 6.14), recebendo a Palavra e os Sacramentos, e partilhando o amor e a justiça, em sincero arrependimento de nossos erros e pecados.
  

"Ó Santo Espírito do Senhor,
dá-nos fé e verdadeiro amor!
Queiras confortar-nos
em nossa vida;
tua igreja mantém unida.
Kyrie eleison."

(Hinos do Povo de Deus-Nº 82 - M. Lutero, baseado numa estrofe medieval) 

quinta-feira, 21 de maio de 2020

21/05/2020 - A ASCENSÃO DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO




         "Os quais lhes disseram: Homens galileus, por que estais olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir." (At 1.11)

          Hoje celebramos a Ascensão de Jesus Cristo ao céu. Quarenta dias após ressuscitar dentre os mortos, em corpo e alma, aparecendo para os seus discípulos e centenas de pessoas, Jesus retornou para junto do Pai (At 1.3). Dessa maneira, os fiéis puderam ver que aquele que havia triunfado sobre a morte era definitivamente vindicado. A sua ascensão é tão importante para o Cristianismo, que é mencionada nos dois credos principais da Igreja, o Credo Apostólico e o Credo Niceno-constantinopolitano.

        Purificando o santuário celestial (Hb 9.24), triunfando pelos ares sobre as forças demoníacas, Jesus agora vive para interceder por nós (Hb 7.25). Pelos méritos de sua santa e redentora morte, pela força de sua gloriosa ressurreição, agora assentado a direita do Pai (Hb 8.1), promete nos guiar, estando entre nós (Mt 28.20) mediante sua divina onipresença, pela Palavra e Sacramentos,embora seu corpo nos esteja visivelmente oculto. 

        Jesus nos fez duas promessas ao subir: que enviaria o Espírito Santo como Consolador e capacitador da Igreja e dos fiéis individualmente (At 1.4-5), e que voltaria para nos levar junto a Si e executar seu juízo contra o mundo ímpio. Ele também elevou a nossa humanidade, através de seu corpo, humano como o nosso, para junto de Deus, permitindo dessa maneira que a vida divina fosse infusa em nós. Leão Magno (400?-461 d.C.) nos diz que: " A ascensão de Cristo, portanto, é nossa exaltação e para lá onde precedeu a glória da Cabeça, é atraída também a esperança do Corpo".

"Deus subiu entre aplausos, o Senhor subiu ao som de trombeta" (Salmo 47.5)

"Tendo cumprido a economia de nossa salvação
e reconciliado a Terra com o Céu,
subiste glorioso, ó Cristo nosso Deus,
sem, porém, nos abandonar;
mas permanecendo junto de nós,
anunciando aos que te amam:
«Eu estou convosco e ninguém é contra vós."

(Hino ortodoxo).