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sábado, 19 de junho de 2021

O REINO DE DEUS ESTÁ NO MEIO DE VOCÊS


" Agora quem me conhece/ Pergunta se eu encontrei /O reino que eu procurava/ Se é tudo o que eu desejei /E eu digo pensando nele /No meio de vós está/ O reino que andais buscando/ E quem tem amor compreenderá."1

         Em meio aos dias difíceis nos quais vivemos, desejo compartilhar uma maravilhosa experiência que tive durante na madrugada passada. Aliás, creio que tal recorte temporal é equivocado. Vou corrigir a sentença: Desejo compartilhar com todos a maravilhosa vida que tenho em Jesus Cristo. Confuso? Vou tentar explicar melhor. Espero que as minhas palavras consigam transmitir pelo menos um pouquinho do que sinto!

        Acordei durante a madrugada, com vontade de orar e meditar. Estando em uma sexta-feira, enfatizei o sofrimento redentor de Jesus Cristo. Recordando a  sua agonia no Getsêmani, entreguei a Ele as minhas inquietações, e intercedi pelos que sentem angústia e desespero.  Recordando a sua flagelação, orei pelos que se encontram nos hospitais, pelas vítimas da fome e da violência. Recordando a coroa de espinhos, roguei pela conversão daqueles que trocaram o Evangelho de Cristo pela sede de poder, pelo amor ao dinheiro e pela doutrina morta dos 'fariseus'. Ao recordar a via dolorosa, pedi a ajuda do Senhor para carregar a minha própria cruz — e também por todos os que sofrem sob as "cruzes" cotidianas. Por fim, recordando a crucificação, pedi que o Senhor acolhesse os que estavam partindo desta vida, concedendo-lhes o arrependimento e confiança na graça divina.

       Enquanto entregava ao Senhor as minhas súplicas pessoais e intercessões, lembrei-me dos inúmeros benefícios que Ele me tem feito. Os sinais do Reino, as sementes de vida e de esperança que contemplei. Após concluir as orações, um número cada vez maior de memórias bombardeava a minha mente. Inúmeros versos e passagens bíblicas se entrecruzavam com tais memórias. Trechos de obras teológicas e prédicas se uniam às lembranças de confraternizações com amigos. Tive certeza: "O Reino de Deus está aqui"2

          As descrições da cidade celestial, a Nova Jerusalém (Livro do Apocalipse)3 refletiam em cenas concretas que vivi. A luz eterna, proveniente de Deus e do Cordeiro, fazia-me recordar a luz divina que recebo ao ler a Bíblia.  As diversas "luzes do conhecimento",recebidas na leitura de artigos científicos, livros de História e conversas com pessoas esclarecidas, somavam-se a tal quadro. As ruas de ouro, as pedras preciosas e as pérolas suscitavam recordações de minhas visitas a belos templos. A  festa das bodas do Cordeiro, na qual nos assentaremos com Abraão e todos os patriarcas, ecoavam ao redor do sóbrio altar da Igreja da Ressurreição, em Santo André-SP. Lembrei-me das vezes que ali recebi o Santo Sacramento do Altar, ouvindo as Palavras “dado por vós (...) para o perdão dos pecados”, junto aos irmãos e irmãs da Paróquia do ABCD. Os cânticos ao Cordeiro de Deus, entre milhões de anjos, ecoavam em uma voz familiar. Como a voz da minha saudosa Eunilia, uma “assembleiana das antigas”, cantando para mim o “Hino 15” da Harpa Cristã4. Foi na cruz, foi na cruz/ Onde um dia eu vi/ Meus pecados castigados em Jesus/ Foi ali, pela fé, que meus olhos abri/ E agora me alegro em Sua luz.
 
        Tenho bebido do rio da água da vida, claro como o cristal. Ao ler o Livro de Concórdia, as obras do doutor Martinho Lutero, os escritos dos Pais da Igreja e os textos de teólogos que amam a Deus e ao próximo. Ao ouvir os conselhos de meus pastores, ao ouvir palavras sábias de pessoas simples, ao ouvir uma verdade cristã na boca de um ateu. Ao ouvir as palavras de encorajamento — ou repreensão — dos meus pais e dos meus amigos. Ao ler um bom romance, apreciar uma digna obra de arte, escutar uma boa música.

          Eu, Giovani, adotado por Deus no santo batismo, cheguei  ao monte Sião e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial com os seus milhares de anjos5.Sim! Fui resgatado das minhas culpas, do medo assolador e da incerteza ante a face severa do Deus irado! Cheguei à reunião alegre dos filhos mais velhos de Deus, isto é, daqueles que têm o nome deles escrito no céu. Percebo isto em cada encontro (mesmo nos virtuais) da Juventude Evangélica da IECLB ou da Aliança Bíblica Universitária (ABU). Nas conversas informais com os meus amigos (velhos e novos). A cada vez que me deparo com um cristão sincero e verdadeiro, seja ele um frade franciscano, uma irmãzinha pentecostal "do coque", um reverendo presbiteriano ou um sorridente jovem batista. Estaremos todos juntos, na comunhão dos profetas, dos apóstolos e dos mártires. Na companhia da bendita virgem Maria, dos anjos e arcanjos. E encontraremos também muitas pessoas, digamos, 'estranhas'... 
 
         As orações dos mártires e os juízos dos anjos, palavras vivas e poderosas, ribombaram em cada denúncia contra as obras das trevas. Na denúncia contra os descasos perpetrados na atual pandemia, no pedido de impeachment protocolado por líderes cristãos (26/01/2021), na coragem dos que denunciam o racismo, a ganância e a violência. Na santa pregação de pessoas pecadoras, que anunciam a real profundidade do pecado: Todos são culpados e indignos diante de Deus . Nas palavras que destroem a presunção dos santarrões, revelando o abismo de pecados no qual estão. Nas palavras que dignificam os ladrões e as prostitutas — revelando que Deus lhes ama (e quer lhes conceder uma nova vida!). Nas exortações dos cientistas zelosos e dos médicos compromissados. Nas palavras singelas de gente que “aprendeu com a vida”. Nas palavras pungentes de um cacique, denunciando a destruição da natureza.
 
         A beleza do novo céu e da nova terra fazem-se evidentes, através dos vislumbres que já contemplo. No vento que acaricia o meu rosto, na chuva caindo sobre o telhado da minha casa, nas árvores no canteiro da avenida. No canto dos pássaros, nos simpáticos cãezinhos que encontro nas ruas. No pôr-do-sol, no azul-celeste, nas formiguinhas em seu labor perseverante. Nos jogos e nas piadas saudáveis. Em inúmeros insights da filosofia e da psicologia. Na luta pela justiça social, pelas causas ambientais e pelos direitos das minorias. Nos atos de partilha, nos abraços e nos sorrisos. Na liturgia do culto  e no diálogo com pessoas 'diferentes'. No arrependimento sincero de pecadores. Eis a beleza, a bondade, a verdade! Isto foi feito pelo Senhor!
 
         Por enquanto, vivemos em uma tensão. Embora já esteja entre nós, o Reino de Deus ainda não se estabeleceu totalmente. O mal, o pecado, a dor, a injustiça e a morte ainda existem. O Poder adversário — 'satan'6 — ronda a terra, com sua mente astuciosa e complexa. Há heresias e mentiras no meio religioso. Ainda é necessário combater e estar alerta, enfrentar situações inexplicáveis e dolorosas. Ainda sofremos e produzimos sofrimento. A natureza é degradada e sujeita à morte. Não conseguiremos resolver esta situação — embora tenhamos o dever de amenizá-la. Mas podemos ter uma certeza: Deus o fará. Sabemos que “tudo ficará bem”. Isto não é suficiente para que nós estejamos bem?
 
Notas e referências 
 
1.  Trecho da canção Balada por Um Reino, composta pelo Pe. Zezinho
2. Cf. Lc 17.21
3. As referências foram extraídas de diversos capítulos do Apocalipse (principalmente dos cap. 21 e 22) e de passagens relacionadas nos Evangelhos.
4. Hinário oficial das Assembleias de Deus (a igreja na qual fui criado).
5. Cf. Hb 12.22-23
6. Transliteração do termo hebraico (שטן), que significa "oponente", "adversário". Identificado com o διάβολος ("caluniador") no NT. Identificação para o arquinimigo de Deus e da humanidade