Pesquisar este blog

sábado, 15 de maio de 2021

CONVERSA PARA BOI DORMIR: O "MIMIMI" DO (PSEUDO)CONFESSIONALISMO

O Colóquio de Marburgo (1529)

Acusa o teu adversário de ser o que tu és”. Tal frase é muito apropriada para os nossos dias. Por condescendência às pessoas de raciocínio lento, ainda insisto em despejar evidências claras da incoerência de certos discursos. Refiro-me aos discursos dos luteranos (pseudo) confessionais.

Eles escondem a sua idolatria política, os seus preconceitos pessoais, os seus valores culturais e interesses particulares por trás de um discurso de “pureza confessional”. Mostrar a incoerência deste discurso é uma tarefa fácil. Infelizmente, ainda precisamos fazê-lo. Pois, embora utilizem técnicas bem rudimentares de distorção (tanto das Escrituras quanto dos documentos confessionais), eles são capazes de iludir duas categorias de pessoas: 

1. Pessoas com baixo desempenho intelectual. 

2. Pessoas cuja inteligência está bloqueada/cerceada por algum mecanismo psicológico ou por                    preconceitos (não aceitam mudar de opinião). 

Não há como acreditar na “pureza confessional” de quem comunga com líderes heterodoxos para “defender a sã doutrina”. Afirmo isso com a mesma propriedade de quem nega a existência de “tripés com quatro pés”. A Verdade existe, e nos foi revelada por Deus (Dt 6.4; Jo 8.12-59; Jo 14.6; Jo 17.17-26). Portanto, não há como certas coisas serem simultaneamente verdadeiras (1Re18.21; Mt 6.24ª).


Um luterano confessional pode (eu diria que deve) manter a comunhão com as demais vertentes cristãs (ecumenismo). Todos os que creem em Jesus Cristo e são batizados em nome do Deus Trino constituem a Igreja una, santa, católica (universal) e apostólica (Mt 28.19,20; Mc 16.16; Gl 3.26-28). Portanto, são membros do povo eleito do Senhor (1Pe2.9), mesmo aqueles que defendem doutrinas heterodoxas, incoerentes ou deficientes/confusas sobre certos temas (ex:dispensacionalismo, sabatismo, purgatório, milenarismo, dupla predestinação,credobatismo, transubstanciação, “segunda bênção”, etc.). Tendo em mente a necessária ressalva de que há verdades doutrinárias absolutas (e que devemos confessá-las), podemos nos unir com os demais cristãos ao redor da cruz (Jo17.20-21).        
 
Também é bom e proveitoso estender a amizade, a paz e o diálogo às pessoas de outras religiões (e até mesmo às que não tem religião alguma). Com mãos estendidas e armas depostas, construímos pontes e desfazemos preconceitos (At 17.22-27). Assim podemos promover a solidariedade, o amor, o cuidado com a natureza, os direitos humanos e bem-estar da sociedade (Gn 2.15; At 10; Rm 2.13-15). Podemos aprender e ensinar (Mt 8.5-10). Através de Deus, no qual todos os seres humanos “vivem, se movem e existem” (At 17.28), podemos nos empenhar em tal intento. Através da fé em Jesus Cristo, o único Salvador e Senhor, que morreu por todos os pecadores (Jo 12.31-32; Rm 5.12.21; 1 Jo 2.2          

Tendo elencado os pontos acima, desejo manifestar a minha repulsa diante da aviltante perturbação promovida por alguns “luteranos fundamentalistas”. De forma arrogante, acusam líderes e teólogos honrados e competentes de promover heresias e “violações doutrinárias”. Ao fazer tais acusações, apontam para participação destes líderes no movimento ecumênico, no diálogo inter-religioso e na luta pela justiça social. Em sua soberba, são semelhantes aos “zelosos rebeldes” citados no capítulo 16 do livro de Números. 

Hipócritas! Ocultam suas heresias e relativismo sob uma capa piedosa. São capazes de estender a comunhão fraterna a todos os descendentes dos grupos considerados heréticos por nosso reverendo doutor Lutero (bendita seja a sua memória!). Em nome da “sã doutrina”, eles se unem aos modernos zwinglianos, anabatistas, entusiastas e papistas. De bom grado receberiam chapéus cardinalícios, abraçariam as heresias de Müntzer e assinariam um acordo eucarístico em Marburgo. Quais os únicos critérios com os quais eles se importam? Concordância em posicionamentos estritos sobre temas como política, cultura, sexualidade e gênero.

Eles agem sempre do mesmo jeito: apontam, acusam, caluniam, esbravejam, rangem os dentes. Questionados sobre a própria incoerência, recusam-se a dar qualquer resposta razoável. Fogem pela tangente, repetindo chavões e clichês. Agora você pode entender, caro leitor, a razão de existirem episódios como os que vou narrar. Todos eles promovidos por ‘luteranos confessionais’ e/ou ‘conservadores’. Enumero situações reais, as quais seriam inconcebíveis para qualquer pessoa honesta e/ou razoável:
 
— Leigo luterano afirma que militante neopentecostal, fundamentalista e sionista é “mais fiel à Bíblia” do que um honrado pastor luterano “progressista”. 
— Pastor luterano cita famoso pastor neopentecostal — e notável vendedor de indulgências — como exemplo de “coragem e caráter cristão”. 
— Idosos luteranos desejam que membros homossexuais de suas congregações sejam expulsos — embora defendam pastores luteranos que praticaram rebatismos!
— Luterano defensor do “sola fide” sugere que denunciar o atual governo é uma heresia que pode levar pessoas ao inferno. 
— Médico luterano propaga “notícias distorcidas” e nunca se arrepende — mas é capaz de dizer que cristãos divorciados não podem tomar a Santa Ceia! 
— Após publicar uma crítica teológica contra uma sátira da Santa Ceia (que fora perpetrada por um ex-ministro do atual governo), jovem é xingado com diversos palavrões por um senhorzinho luterano 'conservador'. 
— Idosa luterana afirma que a “ideologia marxista” está destruindo a saúde mental dos jovens luteranos. Por isso eles estariam deixando suas congregações e encontrando a salvação e a paz na igreja do “apóstolo do chapelão”. 
— Luteranos se revoltam com a aproximação entre igrejas luteranas europeias e o Vaticano — mas “rasgam elogios” a um padreco negacionista, apoiador das políticas do atual governo federal.
— Alguns luteranos dizem que um cristão não é obrigado a seguir determinado posicionamento político — mas afirmam que um cristão não pode apoiar a “esquerda diabólica”. 
— Luterano X mantinha boas relações com um cristão pentecostal. Ambos concordavam com pautas relativas à sexualidade, política, moral e bons costumes. O pentecostal tornou-se luterano e, simultaneamente, adotou posições mais “progressistas”. O Luterano X passou a detestá-lo, cortando relações.

Ouçam o convite da Sabedoria (Pv 9.1-6)! Alguns podem perguntar: “Mas como posso reconhecê-la? Há muitas vozes dissonantes, tenho medo de ser enganado!”. A Bíblia responde: ela é reconhecida pelos ‘filhos’ (resultados/ frutos) que produz (Lc 7.1-35). 

NOTA: Você não entendeu determinadas referências históricas e doutrinárias? Vá ler um pouco. Sei muito bem que algumas pessoas se queixam quando há “muita coisa escrita” para ser estudada. Mas não há como querer ensinar os outros sem possuir bases. O Catecismo Maior trata com termos severos os “mestres” preguiçosos. Leia a Bíblia, de capa a capa, ao menos uma vez (e mantenha uma rotina de leitura bíblica!). Leia o Livro de Concórdia, obras de Lutero, obras diversas de dogmática luterana e história eclesiástica. Mantenha-se atualizado sobre discussões no âmbito da teologia acadêmica, consulte obras de referência (dicionários, concordâncias bíblicas, léxicos de hebraico e grego bíblicos). Ouça sermões e palestras de pastores e teólogos mais sábios e experientes do que você. Busque conhecer o básico sobre Ciência, História, Literatura e atualidades. Depois de tais estudos, em meio a muita oração, provação e lágrimas, participando ativamente da vida comunitária eclesiástica e ouvindo opiniões diversas, você poderá entrar em discussões ‘profundas’. Mesmo assim, não se glorie. Estarás no nível de aspirante/ aprendiz, e deverás ouvir com respeito e reverência pessoas infinitamente mais capacitadas.




quinta-feira, 13 de maio de 2021

Testemunhar de Jesus Cristo - Uma reflexão para o Dia da Ascensão

13 de Maio de 2021- Ascensão do Senhor

(Ano B - Textos Bíblicos: At 1.1-11; Sl 113; Cl 3.1-11; Jo 14.1-12)

 
Vitral na Igreja da Ascensão (IECLB), em Novo Hamburgo (RS)

            "Nosso Senhor disse a seus discípulos: "Deveis ser minhas testemunhas na Judeia, em Jerusalém, na Samaria, e até às extremidades da terra".

            Jerusalém era uma cidade de paz, e foi também uma cidade de tormento, pois Jesus nela sofreu imensamente e morreu dolorosamente. Meus filhos, é nessa cidade que devemos ser suas testemunhas, não em palavras, mas em verdade, por nossa vida, imitando-o tanto quanto nos for possível. Muitos homens gostariam de ser as testemunhas de Deus na paz, com a condição de que tudo corra do modo que desejam. Gostariam de ser santos, com a condição de nada encontrarem de amargo nos exercícios e no trabalho de santidade. Eles gostariam de experimentar, desejar e conhecer as doçuras divinas sem [ter que passar por] nenhuma amargura, pena e desolação. Assim que aparecem fortes tentações, trevas, desde que eles não têm mais o sentimento e a consciência de Deus, desde que eles se sentem abandonados interiormente e exteriormente, desviam-se e não são portanto verdadeiras testemunhas. Todos os homens buscam a paz; em toda a parte, em suas obras e de todos os modos , eles buscam a paz. Ah! Pudéssemos nós libertar-nos desta busca, e pudéssemos buscar, nós, a paz no tormento, te extraviarás. Busquemos a paz no tormento, a alegria na tristeza, a simplicidade na multiplicidade, a consolação na amargura; assim é que seremos em verdade testemunhas de Deus."

Fonte:  "Quarto Sermão para a Ascensão" , Johannes Tauler (1300-1361)

OBS: O nome Jerusalém, em sua origem etimológica, significa "cidade da paz". O frei Tauler utiliza a informação de forma alegórica (uma prática comum entre os teólogos medievais).