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sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Os cristãos devem comemorar o Natal?





Alguns, mesmo cristãos ortodoxos, se opõe a comemoração do Natal. Segundo eles alegam, não sabemos o dia certo em que Cristo nasceu. Além disso, a data 25 de dezembro era um feriado pagão. Certa seita, que usa esse argumento, não proíbe, no entanto, outros hábitos vindos dos pagãos, como o uso de alianças de casamento.

Segundo os estudiosos bíblicos,o próprio Deus se apropriou de festas pagãs, e reformou-as do modo que pudessem ser comemoradas pelo seu povo Israel. Os pagãos comemoravam com ídolos e depravação. Já os israelitas faziam para a glória do Deus verdadeiro. Os pagãos consultavam os seus deuses debaixo de árvores. E Deus assim falava com Abraão (que vivia entre pagãos – Gn 13.18). Os moldes arquitetônicos do Tabernáculo e do Templo, apesar de estabelecidos por  Deus, refletiam tendências dos povos vizinhos da época. Vale lembrar também que o apóstolo Paulo se apropriou do "deus desconhecido" dos ímpios para pregar-lhes (At 17.22-23).

Os cristãos viam que no dia 25 os pagãos comemoravam o seu deus,o sol.Decidiram então que era uma boa oportunidade de comemorar a encarnação do sol da justiça, profetizado por Malaquias (Ml 4.2) .Assim, enquanto os pagãos festejavam as suas vaidades, os cristãos se regozijavam na encarnação do filho de Deus para a salvação dos homens.Com o tempo, a data 25 de dezembro passou a ser lembrada no Ocidente como comemoração do nascimento de Cristo. Os deuses dos romanos viraram peças de museu. Mas o cristianismo triunfou. E assim, comemorando nessa data o nascimento de Cristo, zombamos dos deuses falsos. Eles pereceram  (aliás, suas lendas, pois eles nunca existiram).Mas Cristo permanece. O seu reino é perpétuo (profecia do Salmo 45.6).Proclamamos que o paganismo é vaidade, que os falsos deuses passam, mas a Rocha Eterna permanece. Lembramos que os inimigos de Cristo servirão como escabelo de seus pés(Sl 110).Glória a Deus, que em vez de comemorarmos falsos deuses, comemoramos a encarnação de seu Filho. Glória a Deus, que nos libertou da cegueira e dos ídolos mudos.

Outros apontam que é errado comemorar o nascimento de alguém, já que Herodes e Faraó mataram pessoas no dia de seus nascimentos (aniversário).Ora ,que explicação mais vazia! Herodes e Faraó eram pessoas más, e não matavam somente no dia de seus aniversários. Também devemos lembrar que Faraó não só matou um homem, mas absolveu o outro. Ou seja, nem só coisas más foram feitas. Se os próprios anjos se regozijaram no nascimento de Cristo (Lc 2.14), como pode um cristão não se alegrar da encarnação de Nosso Senhor!?.Aquele dia foi dia de novas de alegria (Lc 2.10).

Mas porque, então, Deus não ordenou que fosse comemorado o nascimento de seu Filho? Ora, no Novo Testamento, os costumes a respeito de festas e liturgias não são citados. Deus deixou-nos a escolha de comemorar ou não. Aquele que faz diferença entre um dia e outro, ara o Senhor o faz. Já o outro, considera todos os dias iguais, e para o Senhor o faz (Rm 4.6). Mas é mais sábio se basear no costume e tradição da Igreja, construídos por santos homens ao longo dos séculos, e apoiados pela prática do povo de Deus, que tantos benefícios concede, que promove o louvor a Deus e a conversão dos homens, do que em nossas visões ignorantes e distorcidas das Escrituras (que são, sim, nossa única regra de fé).

O Advento

A partir do século IV, os cristãos desenvolveram um período de preparação para o Natal chamado de Advento, que em latim significa “vinda”. Além desse significado histórico, de acompanhar a esperança dos patriarcas de Israel pelo Messias prometido e sua encarnação, o período do Advento também é marcado por uma maior concentração na promessa da Segunda Vinda de nosso Senhor. Já no século VI possuímos registros de orações e textos litúrgicos específicos para a celebração dos quatro domingos anteriores ao Natal, chamados de Domingos do Advento. Alguns hinos milenares, como o “Ó Vem Emanuel” e as “Antífonas do Ó” tradicionalmente são cantados no período. Mas, como já foi dito que o Advento também mira a segunda vinda de Jesus, hinos mais populares, que constam nos hinários de igrejas evangélicas, como “Vem outra vez nosso Salvador” e “Vencendo vem  Jesus”, também são muito benvindos nesse período.

“Ó vem, ó vem, Emanuel,
Remir teu povo de Israel,
Que chora em triste exílio aqui,
Clamando súplice por ti.
Exulta! Exulta! Emanuel
Será bem-vindo, ó Israel!”

Sobre a árvore de Natal

Alguns apontam que os cristãos não podem usar árvores de natal, porque essas tem origem pagã. Alguns chegam até mesmo, usando uma interpretação errônea do texto, a dizer que Jeremias 10.3 proíbe-as. No entanto, se analisarmos o contexto, vemos que a passagem se refere a ídolos. E até onde eu saiba, ninguém adora árvores de natal!
A meu ver, é muito confusa a história das árvores de natal. Uns apontam que ela surgiu entre os cristãos da Alemanha na Idade Média. Outros dizem que ela veio do paganismo (mas devemos lembrar, como já foi dito, que o próprio Deus se utilizou de hábitos pagãos). Há até mesmo quem atribua a invenção ao reformador Martinho Lutero.

Podemos atribuir um significado bíblico, teológico e espiritual a árvore de natal. Por ser uma árvore, remete a dois significados principais: as próprias árvores daquela bela noite em Belém, lembrando-nos da cena presenciada pelos pastores; e um significado mais profundo, a criação que cresce e vive sob a misericórdia de Deus, recebendo então os adornos de sua graça (representados pelas bolas, que também podem representar os astros no céu naquela linda noite). A estrela faz referência a profecia do Antigo Testamento de que "uma estrela procederia de Jacó" (Nm 24.17), e também nos lembra o relato do Novo Testamento, da estrela benfazeja que conduziu os magos, pagãos e gentios, ao Salvador prometido, que salvaria do pecado homens de todas as tribos, povos e nações.

“Pinheiro lindo, dás lições
De amor e de constância:
Teus verdes ramos, tua luz,
Nos lembram hoje o bom Jesus
E inspiram sempre o coração
Já desde a tenra infância”

Sobre outros símbolos natalinos

Existem outros símbolos natalinos, dos quais os principais são a coroa do Advento e o presépio. A coroa do Advento nasceu entre os protestantes europeus do século XIX. A guirlanda (coroa de folhas) representa, pelo seu formato, a eternidade. As velas, acesas em cada um dos domingos do Advento, tem cada uma o seu significado. Em um triste episódio protagonizado na Internet, alguns protestantes fanáticos dirigiram os mais severos impropérios contra os responsáveis por uma congregação, ligada a uma respeitada denominação tradicional, por utilizar a coroa em sua liturgia. Entre as acusações feitas, estava a de "idolatria" e "coisa de católico". Ora, aqui eu poderia sobejamente refutá-los, explicando o que vem a ser idolatria, e o que vem a ser o termo "católico" (e como ele pode ser aplicado também aos verdadeiros protestantes), mas não é essa a intenção do artigo. Mal sabem eles que a coroa do advento é uma criação protestante...

O presépio foi inventado por Francisco de Assis, na Itália, no século XIII. Por se tratar de uma representação pictórica, normalmente composta de pequenas estátuas, é concebido como errôneo por algumas igrejas que levam mais ao pé da letra alguns pontos de documentos como o Catecismo de Heildelberg ou os Símbolos de Westminster. Quem lê meus artigos, sabe muito bem o que penso a respeito de imagens sacras e idolatria. Posso resumir: imagens, quando possuem função didática, memorial e artística, podem ser bem usadas para a glória de Deus. O que não devemos fazer é prestar culto a elas. Em outros países, é costume até mesmo dos pentecostais montar presépios!

Várias ou tradições natalinas, como os cânticos, cantatas sacras e representações também contribuem para comemorarmos a data de maneira cristocêntrica.

“Noite de paz, noite de amor;
Tudo dorme, em derredor!
Entre os astros que espargem a luz
Bela, indicando o menino Jesus,
Brilha a estrela da paz,
Brilha a estrela da paz.

Noite de paz, noite de amor;
Ouve o fiel pastor
Coros celestes que cantam a paz,
Que nesta noite sublime nos traz,
O nosso bom Redentor,
O nosso bom Redentor

Noite de paz, noite de amor;
Oh! Que belo resplendor
Paira no rosto do meigo Jesus!
E no presépio do mundo, a luz!
Astro de eterno fulgor,
Astro de eterno fulgor.”

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

07/12 - Ambrósio de Milão

AmbroseOfMilan.jpgHoje celebramos a memória de Ambrósio de Milão, considerado um dos quatro grandes Pais da Igreja latina. Gaulês descendente de gregos, nasceu por volta do ano 334, em Tréveros. Filho de um alto funcionário do governo romano na região, recebeu em Roma uma primorosa educação, estudando gramática, literatura, retórica e direito. Também recebeu os ensinamentos cristãos.

A carreira eclesiástica de Ambrósio iniciou-se de maneira inusitada. Trilhando uma brilhante carreira administrativa no governo romano, Ambrósio chegara a governador da província da Emília e Ligúria. Quando o bispo de Milão (cidade que era sede do governo da província) faleceu, houve uma grande cizânia entre a população sobre quem o sucederia: alguns apoiavam um candidato ortodoxo, outros queriam um candidato ariano. Ambrósio controlou os ânimos de maneira tão eficiente que o povo aclamou-o bispo. Na época, ele ainda era um catecúmeno, ou seja, nem ainda havia sido batizado como cristão! Em alguns dias, recebeu o sacramento, foi ordenado diácono, presbítero e, enfim, bispo.

Apesar da estranha maneira pela qual chegou ao episcopado, Ambrósio foi um bispo exemplar. Excelente pregador, lutou pela reforma do clero, apoiou a virgindade consagrada, combateu heresias e soube pastorear seu rebanho como poucos. O mais famoso de seus convertidos foi Santo Agostinho, a quem Ambrósio também batizou. Ambrósio sabia ser enérgico quando necessário, como podemos vislumbrar em dois episódios de sua vida: opôs-se firmemente à restauração da imagem da deusa pagã Vitória no senado, e conseguiu a vitória (perdão pelo trocadilho). Em outra ocasião, obrigou o imperador Teodósio a se humilhar publicamente por seu pecado (Teodósio matara muitos habitantes de uma cidade, após seu enviado ter sido assassinado nesta cidade).

Ambrósio de Milão faleceu em 397, após fecundo e excelente ministério.Influenciou seu convertido Agostinho, que o citou muitas vezes em suas obras. Legou-nos muitos escritos, como os tratados Sobre os Sacramentos e Sobre a Penitência.Reformou a liturgia na diocese de Milão, e escreveu muitos hinos congregacionais. O chamado canto ambrosiano desenvolveu-se graças a sua influência.
Alguns extratos dos escritos de Ambrósio:

" Crê que também a carne ressuscitará. Com efeito, por que foi necessário que Cristo assumisse a carne? Por que foi necessário que Cristo experimentasse a morte, recebesse a sepultura e ressurgisse, senão em vista da tua ressurreição? "Se Cristo não ressuscitou, vã é a nossa fé". Todavia, porque ele ressuscitou, a nossa fé é firme". (Explicação do Símbolo)

"Volta comigo agora ao meu assunto. De fato,é grande e venerável que o maná tenha chovido do céu para os judeus. Mas procura entender. O que é maior: o maná do céu ou o Corpo de Cristo? Sem dúvida, o corpo de Cristo, que é o criador do céu. Com efeito, aquele que comeu o maná, morreu; quem comer este corpo terá a remissão dos pecados e "não morrerá para sempre". (Sobre os Sacramentos)

"Vós vos aproximastes do altar, recebestes a graça de Cristo, obtivestes os sacramentos celestes. A Igreja se alegra com a redenção de muitos e se rejubila com exultação espiritual por ter junto a si uma família vestida de branco. Encontras isso no Cântico dos cânticos. Ela, que se alegrou, invoca Cristo, tendo preparado um banquete que parece digno de festim celeste. Por isso, diz: "Que meu irmão desça ao seu jardim e colha os frutos de suas árvores". O que são essas árvores frutíferas? Em Adão, tu te transformaste em lenho seco, mas agora, pela graça de Cristo, estais cheios de árvores frutíferas". (Sobre os Sacramentos)