Pesquisar este blog

sexta-feira, 7 de julho de 2017

A Igreja de Cristo na Idade Média

Com uma busca da localização da Una, Santa, Católica (Universal) e Apostólica Igreja de Cristo durante a Idade Média, pretendo mostrar porque creio na salvação de cristãos não-protestantes.

Cristo prometeu que as portas do inferno jamais prevaleceriam sobre sua igreja (Mt 16.18). No entanto, parece que muitos evangélicos não creem nisso. Ao afirmar que as congregações se apostataram entre os séculos IV,V, e VI , sendo o verdadeiro Evangelho resgatado apenas pelos reformadores do século XVI, ele negam o poder do Salvador e a obra do Espírito Santo ao longo da história do Cristianismo. Se assim crermos, teremos de afirmar que a igreja deixou de existir na Idade Média. Isso é simplesmente inconcebível

Para contornarem a situação, fazem um malabarismo histórico tentando achar grupos que se mantiveram fiéis á verdade bíblica, independentes dos primados de Roma e de Constantinopla. Aqui eles incluem os cátaros, paulicianos, bogomilos, etc. Tal teoria é afirmada principalmente por alguns batistas rigorosos e pentecostais Mas, numa análise histórica, esses grupos foram infinitamente piores do que os desmandos e erros acumulados pela Igreja oficial na Idade Média, não crendo no verdadeiro Deus, no verdadeiro Cristo, e na verdadeira fé. Os cátaros (ou albigenses), por exemplo, eram hereges gnósticos e dualistas, apregoando também a reencarnação! Temos, sim, alguns grupos que de fato buscavam a pureza bíblica (como os valdenses), mas estes estiveram temporalmente e geograficamente restritos.


Sabendo então que esses grupos heréticos de modo algum poderiam ser classificados como igrejas visíveis ortodoxas, podemos perguntar: Em qual (is) congregação (ões) foi pregada a verdadeira fé, administrados os sacramentos e conciliados os pecadores durante a Idade Média? A única hipótese racional causaria transtorno entre os evangélicos atuais: tais congregações pertenciam às Igrejas Católicas Romanas e Gregas. Excetuando-se os já citados grupos, era lá que os verdadeiros servos de Deus praticavam sua fé em conjunto

Na verdade, as duas grandes vertentes do Cristianismo( as igrejas católicas, ortodoxas), criamno mesmo Deus, no mesmo Cristo, e na mesma fé básica que nós, conforme será exposto a seguir:

A respeito de Deus:  Crê-se num Deus único, auto-existente, eterno, triúno, onipotente, onipresente, onisciente, misericordioso, amoroso, justo e santo

A respeito de Cristo: Sua divindade, humanidade, concepção divina, nascimento virginal, batismo por João, ministério(ensinamentos e milagres), julgamento pelos ímpios, morte expiatória, ressurreição corporal, ascenção aos céus e segunda vinda, a fim de julgar.

A respeito da fé:  A queda e a pecaminosidade do homem ; a necessidade de um Salvador; a salvação através da morte expiatória de Cristo; a ressurreição corporal e glória eterna para os fiéis; o castigo para os ímpios; a crença nos sacramentos do batismoe eucaristia.

A respeito das obras: A necessidade do amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos a lei de Deus representada nos Dez Mandamentos.a frequência ao culto público; a prática da oração, das obras de piedade e caridade; a necessidade de uma vida santa e consagrada a Deus.

Em todos esses pontos, a Igreja medieval foi, pelo menos na teoria, fiel aos princípios bíblicos. Vale lembrar também que, em muitos outros pontos, havia maior liberdade de pensamento no que na ICAR tridentina (que decidiu, diante da "ameaça" protestante, rejeitar frontalmente e de uma vez por todas os ensinos dos reformadores).

Por fim, devemos nos lembrar que a salvação tem como base a fé em Cristo, em sua verdade revelada que, como podemos ver, ao menos em sua forma básica se encontrava presente na Igreja medieval  Assim sendo, os cristãos da época que fossem consagrados e que possuissem a fé universal( tal qual manifestada nos credos, no Pai Nosso e na moral cristã), passaram pelo novo nascimento e continuaram em suas igrejas de origem, e,mesmo incorrendo em certos erros, alcançaram a salvação. Como não se render ao exemplo de grandes cristãos não-protestantes, mártires, teólogos, pastores e confessores? Como não estimar Francisco de Assis, Bernardo de Claraval, Tomás de Kempis e tantos outros? Será que eles, cujas vidas ofereceram sobre o altar do Crucificado, haveriam de ser condenados ao inferno pelos erros que porventura tiveram em matéria de doutrina?

Muita coisa boa ocorreu na Igreja medieval: brilhantes obras de teologia, textos e práticas devocionais, excelentes hinos (como o belíssimo canto gregoriano), o surgimento do sistema universitário, a beleza da arquitetura eclesiástica, uma série de movimentos avivalistas (como os franciscanos, os místicos germânicos e os "Irmãos de Vida Comum) e os exemplos de vida dos já citados santos.

One of the Legend of St. Francis frescoes at Assisi
É claro que não podemos fechar os olhos para os erros desse período. Várias teorias não-bíblicas, como o purgatório, se desenvolveram então. A mariologia da época tendeu para um excesso, no qual a  doce e bendita mãe do Senhor foi colocada, por muitos, quase como uma deusa. A afirmação mantida pelas duas Igrejas Católicas de época(a Romana e a Grega) que suas respectivas instituições eram a única fonte de salvação, foi uma atitude soberba. Os sacramentos também tiveram sua pureza violada. Muitos clérigos eram corruptos, e os leigos, supersticiosos. Eram erros morais e doutrinários. Mas por acaso não existem erros morais e doutrinários (alguns graves) também no meio protestante atual? O que dizer dos excessos da teologia da prosperidade e do semipelagianismo em nosso meio? No entanto, não condenamos seus partidários ao inferno sem notar o que eles possuem de bom. Essa mesma tolerância deve ser estendida aos cristãos medievais. Talvez, na verdade, mesmo os mais ignorantes e supersticiosos deles fossem melhores do que nós. Pois, se eles compravam cartas de indulgência, era mirando a salvação eterna. Ao contrários de muitos dos nossos, que compram benefícios para esta vida.


Esse ano, nós protestantes celebraremos, com grande júbilo, os quinhentos anos da Reforma. Tenhamos em mente que esta não foi a reinvenção ou a reconstrução da Igreja do Novo Testamento, mas sim um importantíssimo avivamento através do qual camadas de poeira foram retiradas de sobre certas páginas da Bíblia. Mas lembremo-nos que o próprio Lutero olhava com o devido respeito, amor e honra para os grandes santos medievais.