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domingo, 4 de outubro de 2020

04/10 - Memória de S. Francisco de Assis, diácono e reformador monástico

 


                Giovanni di Pietro di Bernardone nasceu em Assis, na Úmbria (região central da Itália), no ano de 1181 ou 1182 .Filho de um rico comerciante -Pietro di Bernardone - e possuindo ligações próximas com a França, possível origem da família de sua mãe (o que lhe rendeu o apelido de Francisco – o pequeno francês), viveu em meio a abundância, tendo sido, na juventude, um autêntico “playboyzinho”. Após experiências existenciais marcantes, que incluíram uma prisão devido a batalha contra Perúgia - cidade vizinha, numa época em que a Itália não constituía um país unificado- e severa enfermidade,, além de contatos com pessoas em grande estado de degradação e com um pregador da Palavra de Deus - o jovem decidiu abrir mão de tudo, dedicando-se exclusivamente ao serviço divino. Passou a acolher os proscritos, cuidar dos enfermos e amar a natureza. Abraçou a “Senhora Irmã Pobreza”.Em uma cena notável, ficou nu diante do bispo e de toda a cidade de Assis, entregado as roupas ao seu pai, dizendo que não queria levar nada em sua nova missão.

                Com o tempo, outros “loucos por Cristo” uniram-se a Francisco, em vida comunitária, sob os votos de pobreza, obediência e castidade. Como acentua um documento confessional luterano, Apologia da Confissão de Augsburgo (redigida por Filipe Melanchton, em 1531), Francisco e os outros grandes pais monásticos (como Domingos e Bernardo) escolhiam tal modo de vida a fim de exercitar o amor cristão, estudar e contemplar as maravilhas divinas. Eram pessoas às quais Deus havia concedido o dom e o desejo pelo celibato, pela renúncia de bens e pela convivência religiosa comunitária, sem que pensassem que com isso estavam “adquirindo créditos" junto a Ele.

                No ano de 1209, Francisco contava com onze leais seguidores. Os doze foram até Roma, e conseguiram do papa Inocêncio III, um dos mais poderosos que a Igreja Romana conheceu, a aprovação de uma Regra norteadora, e adotaram o nome de Ordem dos Frades Menores (o que explica a sigla O.F.M., utilizada por membros da ordem ao assinar algum documento). Ao contrário dos monges (que vivem em clausura, como os beneditinos, os cistercienses e os cartuxos), os frades participam de missões fora dos conventos. Francisco enviou os frades para vários lugares, a fim de que pregassem o Evangelho. Desenvolveu um especial cuidado com os animais e com a natureza. Conversava com os pássaros, resgatava cordeirinhos e compadecia-se até mesmo das lesmas que encontrava no caminho! Segundo a tradição católica, o ministério de Francisco foi acompanhado de milagres e sinais sobrenaturais. Na noite do Domingo de Ramos de 1212, a jovem Clara de Assis -segundo alguns, o "amor platônico" de Francisco- decidiu se unir aos irmãos, como monja, originando o ramo feminino da Ordem Franciscana, chamado de “Pobres Damas de Assis” (Clarissas).

                Numa ousada missão, Francisco foi ao Oriente Médio. Em plena época das Cruzadas, conseguiu uma audiência com Melek el-Kamel, sultão do Egito (1219). Pregando uma mensagem de paz e reconciliação, quis mostrar ao líder muçulmano o verdadeiro caráter da fé cristã e da mensagem da cruz, na qual reside a Verdade plena – mensagem tristemente distorcida pela voracidade e abusos dos cruzados. Conseguiu a admiração dos islâmicos, e o precedente, mesmo que longínquo. para novos contatos.

                Francisco retornou a Itália, onde faleceu no dia 03 de Outubro de 1226, experimentando a santa alegria que provém da fé, não obstante a cegueira e outros severos tormentos físicos. Segundo a tradição da Igreja Romana, teria até mesmo recebido, no corpo, as mesma marcas do Cristo crucificado (estigmas)!

                Elogiado por Martinho Lutero no tratado “Do Cativeiro Babilônico” (1520), Francisco possui muito em comum com a espiritualidade evangélica luterana. Sua ênfase na pregação; sua teologia da cruz- centrada no Deus que assume a miséria e a dor; os cânticos religiosos em língua comum, entendida pelos leigos (como o “Cântico das Criaturas”); a popularização do crucifixo (imagem do Cristo crucificado) nos altares principais das igrejas e a invenção dos presépios natalinos são algumas de suas contribuições para todo o Cristianismo ocidental.

                Entre alguns importantes relatos da espiritualidade de Francisco, escritos pelos seus discípulos, estão a “Primeira Vida” (Tomás de Celano) e a coletânea de testemunhos denominada “Florinhas de S. Francisco”. Ambos podem, facilmente, ser encontrados na Internet, gratuitamente. O livro "Com Deus nos dias de Hoje", escrito pelo renomado estudioso franciscano Anton Rotzetter (1939-2016), é uma importantíssima introdução à história e espiritualidade franciscanas, com certa ótica influenciada pela Teologia da Libertação. Embora eu possua ressalvas com algumas ideias e capítulos do livro, ainda considero necessária, importante e edificante a sua leitura. O clássico filme "Irmão Sol, Irmã Lua" (1972) é uma relevante biografia da primeira parte da vida de Francisco (além de ser muito emocionante!).

                Oremos:Senhor, que inflamastes o coração de teu Bem-aventurado servo Francisco com as chamas do amor e da fé; concede que nós, ao lembrar sua vida e ministério, imitemos o seu exemplo, olhando firmemente para o Deus sofredor, pregado na cruz. E que tal contemplação nos inspire a irradiar o amor em forma de obras concretas, carinho, cuidado e ensino evangélico, zelando também por toda a criação divina, pelos pássaros e pelas árvores, como a irmãos e companheiros. Por Cristo, nosso Senhor. Amém.

Concluo com a transcrição do "Cântico das Criaturas"

"Altíssimo, onipotente, bom Senhor, a ti o louvor, a glória, a honra e toda a bênção.

A ti  só,  Altíssimo,  se  hão-de  prestar  e  nenhum  homem  é  digno de te nomear.

Louvado  sejas,  meu  Senhor,  com  todas  as  tuas  criaturas, especialmente  o  meu  senhor  irmão  Sol,  o  qual  faz  o  dia  e  por  ele nos alumia.

E  ele  é  belo  e  radiante,  com  grande  esplendor:  de  ti,  Altís-simo, nos dá ele a imagem.

Louvado  sejas,  meu  Senhor,  pela  irmã  lua  e  as  estrelas:  no céu as acendeste, claras, e preciosas, e belas.

Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão vento e pelo ar, e nuvens,  e  sereno,  e  todo  o  tempo,  por  quem  dás  às  tuas  criaturas  o sustento.

Louvado sejas,  meu Senhor, pela irmã água, que é tão útil, e humilde, e preciosa e casta.

Louvado  sejas,  meu  Senhor,  pelo  irmão  fogo,  pelo  qual  alu-mias a noite, e ele é belo e jucundoe robusto e forte.

Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a mãe terra, que nos sustenta e  governa, e produz variados frutos, com flores colo-ridas, e verduras.

Louvado  sejas,  meu  Senhor,  por  aqueles  que  perdoam  por teu amor e suportam enfermidades e tribulações.

Bem-aventurados aqueles que  as suportam em paz, pois  por ti, Altíssimo, serão coroados.

Louvado  sejas,  meu  Senhor,  por  nossa  irmã  a  morte  corpo-ral, à qual nenhum homem vivente pode escapar.

Ai    daqueles    que    morrem    em    pecado    mortal!    Bem--aventurados  aqueles  que  cumpriram  tua  santíssima  vontade,  por-que a segunda morte não lhes fará mal.

Louvai  e  bendizei  a  meu  Senhor,  e  dai-lhe  graças  e  servi-o com grande humildade"

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