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segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Bernardo de Claraval



Hoje celebramos a memória de Bernardo de Claraval. Quem foi esse monge, que se tornou o homem mais influente da Europa em seu tempo?
Nascido em 1090 na cidade de Fontaines (França), Bernardo era filho de pais nobres. Aos 22 anos, ingressou na Ordem Cisterciense, tornando-se monge, juntamente com trinta parentes e amigos. Dotado de profunda inteligência, piedade e seriedade, após três anos foi enviado para formar um novo mosteiro, sob sua ordem. O novo mosteiro recebeu o nome de Clairvaux (traduzido em português como Claraval). A expansão de sua ordem foi uma constante na vida de Bernardo, que seria responsável pela abertura de dezenas e dezenas de mosteiros cistercienses por toda a Europa.
Devido a suas qualidades pessoais, Bernardo tornou-se cada vez mais respeitado e influente. Através de suas cartas (das quais nos restam mais de quinhentas), aconselhou governantes e autoridades eclesiásticas. Um de seus monges se tornaria papa, sob o nome de Eugênio III. Em matéria publicada há alguns anos na revista Superinteressante, Bernardo é chamado, utilizando-se a gíria popular, de "trator".
Um dos primeiros problemas enfrentados por Bernardo em sua carreira eclesiástica foi o cisma pelo qual a Igreja romana passava na época. Havia dois papas rivais. Considerando Inocêncio II como o legítimo, contribuiu para a vitória deste. Posteriormente, Bernardo envolver-se-ia em polêmicas com o teólogo Pedro Abelardo (um racionalista de tendências heréticas e vida moral duvidosa). Conseguiu que seu adversário fosse condenado num sínodo. Também combateu heresias que se disseminavam pela Europa ocidental
Apesar de enfatizar o amor divino em suas pregações (o teólogo quacre Richard Foster chega a dizer que, depois do apóstolo João, ele foi quem mais deu ênfase ao amor de Deus), Bernardo cria que, por vezes, os cristãos deveriam pegar em armas para defender a justiça e a fé. Assim sendo, ao saber que o Condado de Edessa, estado cristão na Síria, caíra frente às tropas muçulmanas, começou a pregar a II Cruzada. Os reis da França e do Sacro Império responderiam ao chamado, mas a Cruzada foi em vão, terminando com a derrota dos cristãos, o que foi um grande golpe na vida de Bernardo. Foi ele também quem convenceu o papa a criar uma ordem de monges guerreiros, os templários.
Chamado por alguns papas de "o último dos Pais da Igreja", Bernardo deixou um rico legado literário e espiritual. Entre suas principais obras, estão o livro" Tratado sobre o Amor de Deus", uma biografia de S. Malaquias, um elogio à ordem templária e um tratado aconselhando Eugênio III. Ficou famoso também por seus sermões, dos quais nos restam mais de duzentos, especialmente aqueles que comentam o livro de Cântico dos Cânticos. Além do amor, outras ênfases em sua teologia foram: a expiação através de Cristo e o papel da Virgem Maria na vida cristã. Influenciou a doutrina da "sola fide", que os reformadores protestantes sistematizariam séculos depois. Também foi um poeta sacro, sendo atribuída à sua lavra a autoria dos hinos Salve, Caput Cruentatum, e Jesu dulcis memmoria. Deu ênfase à lectio divina, leitura das Escrituras acompanhada de oração e meditação.
Bernardo faleceu em 1153, cercado de seus fiéis discípulos. Posteriormente, foi canonizado e declarado Doutor pela Igreja de Roma. Também recebeu o título de doutor melífluo (aquele que exala mel) devido a sua ênfase no amor. Era uma das figuras da Igreja mais admiradas pelo reformador Martinho Lutero, e foi citado muitas vezes por João Calvino.

Vejamos alguns textos de Bernardo de Claraval:

"Queres então saber de mim por qual motivo e em que medida devemos amar a Deus? Bem, digo que o motivo de nosso amor por Deus é o próprio Deus, e que a medida desse amor é amar sem medida" (Tratado sobre o Amor de Deus).

"Eis agora a paz, não já prometida, mas enviada; não diferida, mas dada; não profetizada, mas apresentada. Eis que Deus Pai enviou à terra como que um tesouro cheio de misericórdia, um tesouro cujo recipiente a paixão há de quebrar, deixando espalhar-se o preço da nossa salvação que nele se guarda" (Sermão Na Epifania do Senhor)

"Com muita razão o Menino  que nos nasceu recebeu o nome de Salvador quando foi circuncidado, porque já desde então começou a operar a nossa salvação, derramando o seu sangue puríssimo. Já não é necessário que um cristão se pergunte  por que Nosso Senhor Jesus Cristo quis ser circuncidado. Foi circuncidado pela mesma razão pela qual nasceu e pela qual sofreu: não foi por Ele, mas pelos escolhidos que fez tudo isso." (Sermão dos Nomes do Senhor).

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