Hoje, os católicos romanos celebram a Assunção de Maria. Segundo sua
teologia, exibida no Catecismo da Igreja
Católica, ela teria sido elevada aos céus em corpo e alma, não passando
pela morte. Tal doutrina foi proclamada como dogma pelo papa Pio XII na bula Munificentissimus Deus, de 1950 .Os
protestantes defendem que a mãe do Senhor passou pela morte. Tal doutrina também
é apregoada pelos ortodoxos (que, no entanto, creem que seu corpo foi assunto
aos céus antes que experimentasse a corrupção, assim como ocorreu com Jesus) As
tradições protestantes que usam o calendário litúrgico reservaram o dia de hoje
para relembrar Maria em aspectos gerais. Vejamos a beleza do testemunho da
Virgem bendita, e como ela é um exemplo para todos aqueles que querem seguir
fielmente o seu Filho Jesus Cristo.
Maria era uma moça piedosa. A graça divina a enchia (Lc 1.28). Por isso,
foi escolhida entre tantas para ser a mãe do Filho de Deus.
Maria era obediente. Mesmo sem conhecer totalmente todas as
consequências do grande plano que Deus tinha para a sua vida, entregou-se de
corpo e alma (Lc 1.38). Como ela, todos nós devemos dizer: “Eis me aqui,
faça-se em mim a vontade do Senhor”.
Maria nos mostra que a vida com Deus trará alegrias e vitórias. Quando o
menino João Batista, ainda no ventre de sua mãe, salta de contentamento ao
ouvir a saudação, Maria profetiza, pelo Espírito Santo, e se alegra em saber
que Deus iria visitar o povo eleito, que havia chegado o tempo de exaltação de
uns, e humilhação de outros, de modo que só o Criador soberano e Senhor da
História poderia fazer (Lc 1.42-55). Ela soube que seria o perfeito arquétipo
da maternidade, e que seu nome seria proclamado com exaltação por todo o povo
eleito através dos séculos.
Maria é um exemplo de meditação e ponderação.
Ao ouvir muitas coisas dos pastores, ela guardou-as em seu coração, meditando
(Lc 2.19). Ao ouvir palavras misteriosas de seu Filho, ela guardou-as em seu
coração (Lc 2.51). Não era uma mulher tola, que “tinha resposta para tudo” (Pv
29.11), mas com sabedoria e discrição, enveredava-se pelo longo caminho que
deveria percorrer.
Maria nos mostra que todo aquele que quer
servir ao Senhor há de sofrer. O caminho do peregrino é cercado de espinhos, e
Maria o experimentou muitas vezes. Recebeu cruel profecia (Lc 2.35), teve de
fugir de sua terra e de sua gente, refugiando-se entre um povo idólatra (Mt
2.13-15) Experimentou a dor de pensar o que teria acontecido com seu Filho
adolescente, durante três fatídicos dias (Lc 2.45-46). Mas nenhum de seus sofrimentos
comparou-se àquele que ela, em sua idade madura, iria experimentar. Seu tão
amado Filho, sendo oferecido em sacrifício para a remissão dos pecados da
humanidade. Ela estava lá, e não o abandonou no terrível espetáculo da cruz (Jo
19.25). O que teria ela pensado e sentido, quem poderá entender? Afora sua
aguda dor de mãe, ela recebia um golpe violento em sua fé. Era esse o fim d’Aquele
que exaltava os humildes e humilhava os soberbos? Que estranha forma de salvar
a humanidade!
Por fim, Maria nos mostra a perseverança dos escolhidos do Senhor.
“Não temas, ó mãe abençoada, na sexta-feira, sofreste horrivelmente, e
pareceu que tudo havia acabado. Ouve agora, ao terceiro dia: Teu Filho
ressurgiu! A morte não poderia prender àquele que é o Rei da vida. Sim, Maria,
Ele foi retirado de ti, mas ascenderá aos céus, vindicado e soberano. A obra
está consumada, e um dia participarás com Ele das glórias do paraíso”.
Seu Filho havia subido aos céus (At 1.11). Maria havia compreendido de
forma definitiva: os planos de Deus nunca falham. Mãe vitoriosa e abençoada,
ela estava com as primícias da Igreja no cenáculo, onde recebeu a promessa do
Espírito (At 1.14). E ao mesmo Espírito aprouve, através das Escrituras, mostrá-la
pela última vez, dessa maneira: vitoriosa e perseverante.
Lembremo-nos do exemplo sublime da Virgem Mãe, a quem todas as gerações
chamam de bendita. Ela é a grande representante da semente piedosa (Ap 12) que
se sucedia desde que Eva havia se arrependido de seu pecado (que havia
introduzido o mal na raça humana). Ela é a nova Eva (conforme foi chamada por
Irineu de Lião), pois se, pela primeira, o Inimigo convencera Adão a pecar, por
Maria veio aquele que reverteria o caminho do primeiro Adão. Maria foi um vaso
de honra, um exemplo de santidade, e a mais exaltada das criaturas da
Santíssima Trindade. Que possamos seguir o seu sábio conselho, de fazer tudo
aquilo que seu Filho mandar (Jo 2.5), e confiarmos, como ela, que a salvação é
obra da graça divina (Lc 1.47), a fim de podermos herdar com ela e com todos os
santos, a vida eterna.
“Na economia da salvação,
Foste maior que
os querubins
Em teu seio
virginal
Nasceu quem salva
a mim
Com honras nós
nos lembramos
De ti, Maria,
escolhida.
Por Ti o nosso
Senhor
Veio à terrena
vida
Louvemos ao Deus
de Maria
E ao seu Filho,
bom Jesus
E a quem, com sua
sombra
Cobriu-a, Deus de
luz.”
APÊNDICE: Giovani, o título “Mãe de Deus”, aplicado a Maria pelos
católicos romanos, é correto?
Esse é um dos mais antigos dogmas marianos da Igreja Romana. Mas também
é aceito pelos cristãos ortodoxos e por vários grupos protestantes. Declarado
no Concílio de Éfeso (431), o III Concílio ecumênico, teve como objetivo a
apologia da doutrina bíblica sobre as duas naturezas de Cristo e a relação
entre elas. Maria é corretamente chamada de "Theotokos", que
significa "portadora de Deus", título traduzido para o latim como
"mater Dei"(mãe de Deus), forma que usamos hoje no Ocidente.
O objetivo desse título não foi a adoração de Maria, conforme afirmam
alguns textos apologéticos evangélicos, mas a defesa da doutrina da União
Hipostática, ou seja, que na pessoa de Jesus Cristo permanecem unidas
inseparavelmente e sem confusão as naturezas divina (o Logos eterno de Deus) e
a humana (constando de corpo e alma racional).
O título existia desde o tempo de Orígenes, sendo defendido amplamente
pelos Pais da Igreja. O Concílio foi convocado porque Nestório, arcebispo de
Constantinopla, afirmava que em Cristo subsistiam não duas naturezas, mas mesmo
duas pessoas. Assim sendo, seria possível separar nosso Salvador e dizer que
Maria era apenas a "Christothokos" (mãe apenas da natureza humana de
Cristo). Cirilo, arcebispo de Alexandria, passou a atacar o colega, dizendo que
sua doutrina contrariava as Escrituras e a Tradição da Igreja. Para ele, era
necessário, mais do que nunca, defender o título "Mãe de Deus", e
assim preservar a perfeita unidade de Jesus. O concílio foi convocado, e Cirilo
saiu vitorioso. Conseguiu que Nestório fosse deposto, excomungado e banido do
Império Bizantino. Os seguidores de Nestório, que floresceram na Pérsia e na
Ásia Central por séculos, ficaram conhecidos como nestorianos, chegando a
evangelizar a China em plena Idade Média. Mas, hoje em dia, são muito poucos. O
Concílio de Calcedônia (451) confirmou o título mariano, que tornou-se dogma de
fé incontestável nas Igrejas oficiais.
Os grandes reformadores (como Lutero, Calvino e Zuinglio) defenderam a
maternidade divina de Maria. Os documentos confessionais da Igreja Luterana o
afirmam claramente.
Vamos usar uma comparação: Isaque é filho de Abraão e Sara. Sabemos,
pela biologia atual, que ele herdou parte de seu material genético de seu pai,
e parte de sua mãe. No entanto, Abraão é, verdadeiramente, o pai de Isaque, e
não o "pai da parte de Isaque que veio dele". Sara, verdadeiramente,
é mãe de Isaque, e não a "mãe da parte de Isaque que veio dela". Pois
em Isaque as heranças genéticas dos dois estão indissoluvelmente unidas, de
modo que Isaque é um só. Assim, na pessoa de Jesus Cristo, as duas naturezas
estão indissoluvelmente unidas, e sendo Ele verdadeiro Deus e verdadeiro homem,
sua mãe pode verdadeiramente ser chamada de "Mãe de Deus". Por isso,
caro leitor, que os Pais da Igreja, os teólogos medievais, os reformadores e eu
defendemos o uso do título "Mãe de Deus" para Maria.
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