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sexta-feira, 4 de setembro de 2020

OS CONCÍLIOS ECUMÊNICOS E AS AUTORIDADES NA E DA IGREJA

 

Assinado conjuntamente pela Federação Luterana Mundial (The Lutheran World Federation) e pelo Patriarcado Ecumênico de Constantinopla (que lidera a Igreja Ortodoxa)

1. A autoridade da Igreja está fundamentada na revelação salvífica de Deus em Jesus Cristo, da qual as Escrituras do Antigo e Novo Testamento e a Santa Tradição dão testemunho. Além disso, a Igreja como corpo de Cristo é capacitada pelo Espírito Santo. A Comissão Conjunta em Allentown, 1985, declarou: "A revelação de Deus em Jesus Cristo é realizada e atualizada na Igreja e por meio da Igreja como o corpo de Cristo. Os mistérios pascal e pentecostal instituíram a Igreja do Novo Testamento na qual a revelação é vivida, proclamada e transmitida. O Espírito Santo sustenta a vida e o crescimento da Igreja até o último dia, através da proclamação do Evangelho na plenitude da tradição apostólica e sua transmissão de lugar em lugar e de geração em geração, não apenas por palavras mas também pela totalidade da vida da Igreja.

 

2. A natureza da autoridade da Igreja difere da autoridade mundana. Nosso Senhor Jesus Cristo disse aos seus discípulos: "Os reis dos Gentios exercem senhorio sobre eles; e os que têm autoridade sobre eles são chamados de benfeitores. Mas não deve ser assim entre vocês; antes, que o maior seja como o menor, e o líder como quem serve. Pois quem é maior: quem se senta à mesa ou quem a serve? Mas eu estou entre vocês como um que serve" (Lc 22.25-27). Toda autoridade na e da Igreja está enraizada na obra salvífica de Cristo, que deu a sua vida por nós. Autoridade e soteriologia são indivisíveis. A autoridade de Cristo, presente na missão da Igreja (Mt 28.18-20), é sustentada pelo Paráclito que conduz os fiéis à toda a verdade (jo 14.26; 16.7-14) e por meio dos apóstolos e seus sucessores é dado a toda a Igreja. Tanto os Ortodoxos quanto os Luteranos afirmam que a autoridade apostólica foi exercida nos concílios ecumênicos da Igreja nos quais os bispos, através da iluminação e glorificação trazidas pelo Espírito Santo, exerceram responsabilidade. Os concílios ecumênicos são um presente especial de Deus para a Igreja e uma herança autoritativa através dos séculos. Pelos concílios ecumênicos o Espírito Santo conduziu a Igreja a preservar e transmitir a fé que uma vez foi dada aos santos. Eles transmitiram a   verdade profética e apostólica, formularam-na contra as heresias de seu tempo e salvaguardaram a unidade das igrejas.

 

3. Os sete concílios ecumênicos da Igreja antiga foram assembleias dos bispos da Igreja de todas as partes do Império Romano a fim de esclarecer e expressar a fé apostólica. Esses concílios são Niceia (325 d.C.), Constantinopla I (381), Éfeso (431), Calcedônia (451), Constantinopla II (533), Constantinopla III (680/81) e Niceia II (787). Dos concílios, foi afirmado em Creta, em 1987: "A Santa Tradição como ação permanente do Espírito Santo na Igreja se expressa por toda a vida da mesma. As decisões dos concílios ecumênicos e sínodos locais da Igreja, os ensinamentos dos santos padres e os textos e ritos litúrgicos são especialmente importantes e autoritativas expressões da multifacetada ação do Espírito Santo" (par.8). Os concílios ecumênicos são a epítome da teologia bíblica e resumem os principais temas da Santa Tradição. Não são apenas de significância histórica mas são eventos insubstituíveis para a vida da Igreja. Através deles  a fé e a tradição apostólica, trazidas pela revelação salvífica de Deus em Cristo, foram confirmadas pelo consenso dos representantes reunidos da Igreja, guiados pelo Espírito Santo.

 

4. Os ensinamentos destes concílios ecumênicos da Igreja antiga são normativos para a fé e vida de nossas igrejas atualmente. As formulações trinitarianas e cristológicas destes concílios são um guia indispensável para o entendimento da obra salvífica de Deus em Cristo e o fundamento de todos os aclaramentos dogmáticos posteriores. O Credo Niceno-constantinopolitano é o mais conhecido padrão de fé proveniente dos antigos concílios, e agora que sua forma original é cada vez mais comum no Ocidente, há um vínculo cada vez mais vivo entre nossas igrejas. Ele molda a linguagem das orações e bênçãos em nossa adoração, e por seu uso a Igreja permaneceu fiel à revelação do Deus Triúno.

5. Os concílios ecumênicos não somente tomaram decisões a respeito dos problemas doutrinários que ameaçavam a integridade da revelação divina e a unidade da Igreja; eles também emitiram cânones para a boa organização interna da Igreja. Estes cânones estabeleceram uma próxima relação entre a fé que uma vez foi dada aos santos e e a necessidade da organização da vida e estrutura da Igreja. Os “oroi” (decretos doutrinários) salvaguardaram os ensinamentos da Igreja concernentes a salvação; os cânones organizaram vários aspectos da vida da Igreja. Eles são aplicações práticas dos “oroi”. Os dois são aspectos de uma mesma realidade. Ao mesmo tempo, nem todas as decisões sobre questões canônicas têm a mesma autoridade que as decisões doutrinárias e sua recepção e uso nas igrejas Ortodoxa e Luterana diferem.

6. Os concílios ecumênicos foram reunidos a fim de lidar com problemas específicos que surgiam nas igrejas. Não eram uma instituição eclesiástica permanente regularmente convocada, mas sim encontros ad hoc que aconteciam apenas quando a ocasião exigia. Os concílios ecumênicos foram eventos carismáticos. As declarações dos bispos iluminados pelo Espírito Santo passaram por um processo de recepção nos anos que se seguiram. A recepção ocorreu em toda a extensão da  vida, adoração catequese e culto da Igreja, mesmo quando tais concílios não eram claramente nomeados. A recepção também se deu através de discussões teológicas subsequentes que aclararam o significado dos termos e expressões formulados nos concílios anteriores. Um notável exemplo é a discussão teológica após o Concílio de Niceia, que culminou nos decretos e no credo do Primeiro Concílio de Constantinopla em 381.

7. Como Luteranos e Ortodoxos nós afirmamos que os ensinamentos dos concílios ecumênicos são autoritativos para as nossas igrejas. Os concílios ecumênicos sustiveram a integridade do ensino da Igreja indivisa concernente aos salvíficos, iluminadores/justificantes e glorificantes atos divinos e rejeitaram as heresias que subvertiam a obra de Deus em Cristo. Ortodoxos e Luteranos, entretanto, possuem diferentes histories. Os Luteranos receberam o Credo Niceno-Constantinopolitano com a adição do filioque. O Sétimo Concílio Ecumênico, o Segundo Concílio de Niceia em 787, que rejeitou o iconoclasmo e restaurou a veneração de ícones nas igrejas, não é parte da tradição recebida pela Reforma. Os Luteranos, entretanto, rejeitaram o iconoclasmo do século XVI, e afirmaram a distinção da adoração devida unicamente ao Triúno Deus e todas as outras formas de veneração (CA 21). Por meio da pesquisa histórica, este concílio tornou-se melhor conhecido. No entanto, não possui para os Luteranos o mesmo significado que possui para os Ortodoxos. Mesmo assim, Luteranos e Ortodoxos estão de acordo em que o Segundo Concílio de Niceia confirma o ensinamento cristológico dos concílios anteriores e, ao estabelecer o papel das imagens (ícones) na vida dos fiéis, reafirma a realidade da encarnação do Verbo Eterno de Deus, quando afirma: “Quanto mais frequentemente Cristo, Maria, a mãe de Deus e os santos são vistos, mais aqueles que os veem são atraídos a lembrar e a desejar àqueles que lhes servem de modelo, e a prestar a estes ícones o tributo de saudação e veneração respeitosa. Certamente esta não é a adoração plena que, de acordo com a nossa fé só é tributada propriamente à natureza divina, mas se assemelha Àquela dada a honorável e vivificante Cruz, e também aos Sagrados Livros dos Evangelhos e aos demais objetos sagrados” (definição do Segundo Concílio de Niceia).

8. O acordo sobre a autoridade dos concílios ecumênicos exige que discutamos em reuniões futuras a compreensão ortodoxa e a luterana da salvação à luz destes concílios.

Sandbjerg, 10 de julho de 1993

 Tradução não-oficial. Créditos: Site da The World Lutheran Federation. Link do texto original abaixo: 

https://www.lutheranworld.org/sites/default/files/1993-Lutheran_Orthodox_Dialogue-EN.pdf


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