CONCLAMAÇÃO DE
CHICAGO (EUA):
UM APELO AOS EVANGÉLICOS
Maio de 1977
UM APELO AOS EVANGÉLICOS
Maio de 1977
PRÓLOGO
Em
cada época o Espírito Santo chama a Igreja a examinar sua fé na revelação de
Deus na Escritura. Nós reconhecemos com gratidão a bênção de Deus através do
ressurgimento evangélico na Igreja. Todavia, a cada época de crescimento,
devemos estar alerta para as nossas fraquezas. Entendemos que hoje os
evangélicos estão impossibilitados de alcançar completa maturidade como
conseqüência do reducionismo de sua fé histórica. Há uma necessidade de
refletir na substância da fé bíblica e histórica e de recuperar a totalidade de
sua herança. Sem pretender contemplar todas as nossas necessidades,
identificamos oito temas nos quais, nós cristãos evangélicos, devemos fazer
cuidadosas considerações teológicas:
UM APELO À CONTINUIDADE DAS RAÍZES HISTÓRICAS
Confessamos
que freqüentemente temos nos esvaziado das abundantes riquezas de nossa herança
cristã, fruto de uma postura na qual acredita-se que a obra do Espírito Santo e
o testemunho das Escrituras estão desconectados com o passado. Agindo assim,
tornamo-nos teologicamente rasos, espiritualmente fracos, e ao mesmo tempo
encobrimos o que Deus fez aos que nos antecederam na fé e valorizamos nossa
cultura em detrimento da obra divina.
Assim,
conclamamos os evangélicos a uma redescoberta de nossa completa herança cristã.
Através da história da Igreja existe um impulso evangélico para proclamar a
imerecida graça de Deus e a reforma da Igreja de acordo com as Escrituras.
Este
impulso aparece nas doutrinas dos concílios ecumênicos, na piedade dos pais da
Igreja, na teologia agostiniana da graça, no zelo dos reformadores monásticos,
na devoção dos místicos e na integridade intelectual dos humanistas cristãos.
Ela floresce na fidelidade bíblica dos reformadores protestantes, continua nos
esforços dos puritanos e piedosos para complementar e aperfeiçoar a Reforma; é
reafirmada nos esforços dos movimentos de avivamento dos séculos 18 e 19 que
uniram luteranos, reformados, wesleyanos e outros evangélicos no esforço
ecumênico para renovar a igreja e estender sua missão na proclamação e na
demonstração social do Evangelho.
UM APELO À FIDELIDADE BÍBLICA
Lamentamos
nossa tendência para a interpretação individualista da Bíblia. Isto corta pela
raiz o caráter objetivo da revelação bíblica, e nega a orientação do Espírito
Santo no pensar teológico dos antigos.
Afirmamos
que as Escrituras são a infalível Palavra de Deus, a base da autoridade da
Igreja. Afirmamos que Deus usa as Escrituras para julgar e purificar seu Corpo.
A Igreja iluminada e guiada pelo Espírito Santo deve interpretar, proclamar e
viver as Escrituras.
UM APELO À IDENTIDADE CREDAL
Lamentamos
os dois extremos: de um lado uma igreja credal que somente recita uma fé herdada
do passado, e de outro, uma igreja de credos que adoece em um vazio doutrinal.
Confessamos que, como evangélicos, não somos imunes a estes defeitos.
Afirmamos
a necessidade, no tempo atual, de uma Igreja que confesse, que dê testemunho de
sua fé ao mundo, mesmo sob perseguição. Em todos os tempos a Igreja deve
atestar sua fé contra heresias e paganismo. O que é necessário é uma vibrante
confissão exclusiva e inclusiva, cujo objetivo é a purificação da fé e da
prática. A autoridade confessional é limitada e derivada da autoridade das
Escrituras. A Igreja necessita expressar sua fé, sem abdicar das verdades
aprendidas no passado. Precisamos articular nosso testemunho contra as
idolatrias e as falsas ideologias de nossos dias.
UM APELO À SALVAÇÃO HOLÍSTICA
Lamentamos
a tendência dos evangélicos para entender a salvação unicamente como individual
e espiritual, ignorando as necessidades físicas do mundo e os aspectos
seculares da salvação de Deus na história.
Incitamos
os evangélicos a resgatar a visão holística da salvação. O testemunho das
Escrituras é que, devido ao pecado, nosso relacionamento com Deus, conosco
mesmos, com o próximo e com a criação, foi rompido. Através do sacrifício de
Cristo na cruz, foi possível refazer este relacionamento.
Onde
a Igreja tem sido fiel a este chamado, tem proclamado a salvação pessoal, tem
sido um canal da cura divina aos necessitados físicos e emocionais; tem
procurado justiça para os oprimidos e abandonados.
Como
evangélicos, desculpamo-nos por nossa freqüente falha em refletir esta visão
holística da salvação. Assim, chamamos a Igreja a participar dessa atividade
salvadora de Deus através da prática e da oração, lutando por justiça e
liberdade aos oprimidos, sem perder de vista a salvação no novo céu e nova
terra escatológica.
UM APELO À INTEGRIDADE SACRAMENTAL
Depreciamos
a pobreza da visão sacramental entre os evangélicos. Em grande parte, isso se
deve à perda de nossa continuidade com o ensino de muitos dos pais e
reformadores, resultando na deterioração da vida sacramental em nossas igrejas.
Também a negligência em refletir sobre a o aspecto sacramental da ação de Deus
no mundo nos leva a desconsiderar a santidade do viver diário.
Conclamamos
os evangélicos a tomar consciência das implicações da criação e da encarnação.
Necessitamos reconhecer que a graça de Deus é medida através da fé, por obra do
Espírito Santo de um modo extraordinário nos sacramentos do batismo e da Ceia
do Senhor. Aqui a igreja proclama, celebra e participa da morte e da
ressurreição de Cristo, de modo a alimentar seus membros em suas vidas em
antecipação e comunicação do seu reino.
UM APELO À ESPIRITUALIDADE
Nós
sofremos de uma negligência de espiritualidade autêntica por um lado, e um
excesso de espiritualidade indisciplinada por outro lado. Temos com freqüência
procurado uma religiosidade sobre-humana, quando o modelo bíblico nos fala de
uma verdadeira humanidade liberta da escravidão do pecado e renovada pelo poder
do Espírito Santo.
Conclamamos
os evangélicos à busca de uma espiritualidade que encarne todo o conteúdo
redentor de Cristo: libertação da culpa, do poder do pecado e vida nova através
da ação do Espírito Santo. Afirmamos a centralidade da palavra de Deus como
meio pelo qual seu Espírito age para renovar a igreja quer como corpo quer individualmente na vida dos crentes.
A
verdadeira espiritualidade se identifica com o sofrimento do mundo e o cultivo
da piedade pessoal.
Precisamos
redescobrir as fontes devocionais da igreja, incluindo as tradições evangélicas
da piedade e do puritanismo.
Conclamamos
os evangélicos a uma prática devocional que aprofunde nossa relação com Cristo
e com outros cristãos.
Entre
essas fontes, estão disciplinas espirituais como oração, meditação, silêncio,
jejum e estudo bíblico.
UM APELO À AUTORIDADE DA IGREJA
Lamentamos
nossa desobediência ao senhorio de Cristo como expresso na autoridade que ele
tem dado à sua Igreja. Isto tem promovido um espírito de autonomia nas pessoas
e grupos que resulta em isolacionismo, competição e anarquia dentro do corpo de
Cristo. Lamentamos essa ausência de autoridade eclesiástica que possibilita o
surgimento tanto de lideranças legalistas por um lado, como, de outro, a
indisciplina.
Todos
os cristãos estão em submissão uns aos outros, subordinados coletivamente a uma
liderança constituída, que por sua vez está submetida a Cristo. A igreja, como
povo de Deus, é a presença de Cristo no mundo. Cada cristão deve ser ativo no
culto e no serviço através do exercício de dons e ministérios. Na igreja,
estamos em união vital com Cristo e com o próximo. Isto evidencia uma
comunidade com profundo envolvimento e compromisso de tempo, energias e bens.
Além
disso, a disciplina na igreja está baseada na Bíblia e sob a direção do Espírito
Santo. Isto é essencial para o bem-estar e ministério do povo de Deus.
UM APELO À UNIDADE DA IGREJA
Lamentamos
o isolamento escandaloso e a separação entre os cristãos. Acreditamos que tal
divisão é contrária ao desejo de Cristo para que sejamos um a fim de que o
mundo creia em nosso testemunho. O evangelicalismo também é historicamente
caracterizado por um uma mentalidade sectária. Falhamos em não assumir a
catolicidade do cristianismo histórico, como também a amplitude da revelação
bíblica.
Encorajamos
os evangélicos ao retorno do conceito ecumênico dos reformadores e dos recentes
movimentos de renovação evangélica. Devemos rever criticamente nossas
tradições, reconhecer que Deus trabalha dentro de várias correntes históricas.
Devemos resistir aos esforços de se promover a união a qualquer custo, como
também evitar os conceitos espiritualizados de união de igrejas. Estamos
convencidos de que a unidade em Cristo requer expressões definidas e concretas.
Nesta crença, apreciamos o desenvolvimento de encontros e cooperações dentro da
igreja de Cristo. Enquanto evitamos o indiferentismo doutrinário, encorajamos o
aumento de discussões e cooperação, dentro e fora de suas respectivas
tradições, procurando áreas comuns de concordância e entendimento.
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