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sábado, 16 de fevereiro de 2013

O batismo infantil é uma prática biblicamente correta?



Uma das questões que existem na igreja evangélica atual diz respeito ao batismo de bebês.Será que ele é legítimo? Ou,será que ele é,como disse um escritor,uma "verdadeira reliquia do papado"? Vejamos:
Nos dias de hoje,em nosso país,a grande maioria dos evangélicos consideram o batismo infantil um erro da ICAR,e que todos os que o receberam devem receber o batismo denovo para se tornarem membros de suas igrejas.Mas nem sempre foi assim.Na época da Reforma, TODAS as igrejas principais apoiavam o batismo infantil.Esse costume é conservado até hoje por elas(luterana,anglicana, reformada continental e presbiteriana).Mesmo outras igrejas surgidas depois,como a metodista,conservaram o hábito.Até mesmo algumas igrejas evangelicalistas o faziam,como a Igreja do Nazareno(hoje em dia,no entanto,esta prática está quase em desuso).Mas,o que diz a Bíblia e o testemunho da história da igreja?
Primeiro temos de observar a origem e o significado do rito do batismo.Ele não foi criado pela igreja,tampouco pelos judeus.Era um costume de povos como os persas.Perto do início da era cristã,alguns grupos judeus(como os essênios)passaram a utilizá-lo,como símbolo de purificação.
Na Bíblia,o primeiro a praticar o batismo foi João Batista,primo do Senhor(Mt 3.1-6).O batismo estava ligado á confissão de pecados e arrependimento.Apesar de ter nascido livre do pecado original e de nunca ter pecado,Jesus recebeu o batismo(Mt 3.13-17),para cumprir a lei e se identificar com seu povo pecador(e assim,inaugurar a primeira fase do cumprimento da profecia de Isaias 53.12).
Jesus foi batizado apenas aos 30 anos! Isso prova que apenas adultos devem ser batizados! Correto? Não.O batismo de arrependimento de João não é o mesmo batismo sacramental ordenado por Cristo à sua Igreja(Mt 28.19).Este último,é um sacramento,conforme diz o credo niceno(adotado pela maioria das igrejas sérias)da remissão de pecados(Jo 3.5).O sacramento de entrada à Nova Aliança(que só foi assinada com a morte de Cristo). Assim sendo,deve ser administrado à todos,pois todos os homens nascem sob o poder do pécado(Rm 3.23),e mesmo as criancinhas estão sujeitas a ele(Sl 51.5).Assim entendiam dois grandes teólogos da igreja primitiva: Cipriano de Cartago(?-258) e Agostinho(354-430).Esses dois homens de Deus defenderam a doutrina bíblica do pecado original,que permeia as Sagradas Escrituras.Hoje em dia,ela é aceita por todas as igrejas sérias no Ocidente.
Mas a Bíblia,mesmo que não usarmos o batismo de João,registra apenas adultos batizados,como o eunuco etíope,Cornélio,Paulo...Não é?: Não...Em várias passagens das Escrituras(At 16.33;At 16.14-15;I Co 11.16) é resgistrado o batismo de famílias.Geralmente,famílias incluem cnanças,ainda mais naquela época,em que o casamento era algo sério e a taxa de natalidade era elevada..Em algumas das traduções da Bíblia,está explícito que crianças foram batizadas nessas passagens.
Em segundo lugar,devemos lembrar que o batismo tem um paralelo com a circuncisão.Assim interpretaram os grandes teólogos ao longo dos séculos.Do mesmo modo que a circuncisão era o método de entrada à Antiga Aliança,o batismo o é para a Nova Aliança.Se crianças eram circuncidadas no AT(Gn 17.11-14),logo devem ser batizadas no NT!.
Alguém poderá dizer: Mas,e as mulheres? Elas não eram circuncidadas! Logo,essa comparação da circuncisão e batismo não é válida,pois,se as mulheres não estavam sujeitas á circuncisão,também podemos deduzir que as crianças não estão sujeitas ao batismo.Mas,vamos analisar bem esta situação:
No AT,porque somente os homens eram circuncidados? Porque Deus escolheu esse sinal? A Bíblia não deixa claro,mas possivelmente temos duas respostas que se complementam:
1)A circuncisão era um ato sangrento.Assim,todos eram lembrados que sem derramamento de sangue não há perdão de pecados(Hb 9.22).
2)O fato do sinal ser aplicado ao órgão sexual talvez represente que é necessário uma força externa para salvar os homens(ou seja,que eles por si mesmos,do jeito que nasceram,não podem salvar a si próprios).
Mas,e o que dizer das mulheres? A maioria dos teólogos reformados tem uma resposta: as mulheres estavam "inclusas" nos seus homens.Assim,quando um homem fosse circuncidado,esse ato valia também para as mulheres relativas à eles.É consenso entre todos que elas eram inferiores aos homens naqueles tempos,diante da Lei.Por isso raramente são mencionadas mulheres nas genealogias,e o Espírito Santo não agia nelas como agia nos homens.Mas,com o advento da Graça,as mulheres tornaram-se iguais aos homens diante de Deus.Para Cristo,não há judeu,nem grego,nem servo,nem patrão,nem homem,nem mulher.Se o Espírito Santo desceu também sobre as mulheres e os corações das fiéis foram feitos templos de Deus,logo elas estavam conquistando uma nova posição de independência espiritual.Por isso as mulheres recebem também o batismo,e são chamadas a servir a Cristo como os homens(não entrarei aqui no assunto da ordenação feminina,pois esse não é o propósito do artigo).Também as criancinhas,tão amadas pelo Senhor,devem receber o sinal da Nova Aliança.
Agora que vimos o significado do sacramento do batismo e os motivos pelos quais não só os fiéis,mas também seus filhos pequenos devem passar por ele,vejamos o que nos diz o testemunho da história da igreja:
Irineu(130-200),discípulo de Policarpo(que foi discípulo do apóstolo João),escreveu que por Jesus,até mesmo os recém-nascidos e crianças poderiam ser salvos e receberem o batismo.Nota-se aí o testemunho de uma pessoa próxima aos apóstolos,de grande dignidade e de uma época em que a igreja era pura(muitos teólogos evangélicos dizem que a igreja começou a se contaminar a partir de 313,com Constantino)
Tertuliano(c. 160-c. 220) registra que o batismo infantil já era praticado nessa época.Para ele,isso era errado.Porque? Assim como em Tertuliano,havia entre alguns teólogos a crença de que o batismo por si próprio tem  o poder de perdoar pecados.Alguns iam ainda mais longe,dizendo que os pecados cometidos depois do batismo erám imperdoáveis.Por isso,quanto mais próximo da morte fosse praticado o batismo,melhor.Mas sabemos que essa visão está totalmente equivocada.A Bíblia diz que Deus ama os seus até o fim.Eles não podem ser arrebatados das mãos de Cristo(Jo 10.28).E o Senhor está sempre pronto a perdoar nossos pecados(I Jo 2.1-2).
Orígenes(185-255) escreveu "A Igreja recebeu dos apóstolos a tradição de dar batismo também aos recém-nascidos".
Cipriano de Cartago,já citado,escreveu especificamente:"do batismo e da graça não devemos afastar as crianças.
A partir do século V,o batismo infantil passou a ser prática totalmente comum à toda a igreja universal.Na Idade Média,as igrejas oficiais(Católica Romana e Ortodoxa) praticavam o pedobatismo.Alguns grupos cismáticos que buscavam a pureza do evangelho(que de acordo com seu entendimento haviam sido corrompidos)como os valdenses,também praticavam o batismo de crianças.
Durante a Reforma Protestante(séc. XVI),a maioria dos grandes teólogos conservou o batismo infantil.Eles rejeitavam a idéia medieval de que os sacramentos eram eficazes por si próprios(ex opere operato) e de que eram totalmente necessários a salvação.Mas compreendiam,cada um a seu modo,que o pedobatismo deveria ser praticado.
Lutero(1483-1546),que pregou a justificação pela fé apenas(sola fide),dizia que o batismo tinha o poder de regenerar,e assim continuou a prática pedobatista tradicional da igreja.
Zuínglio(1484-1531) foi autor de uma Reforma mais radical,em vários sentidos(por exemplo,eliminou as imagens das igrejas,coisa que Lutero não fez).Ele cria que o batismo em águas não tinha poder de comunicar alguma graça,era apenas um símbolo,mas,valendo-se do argumento de que o batismo é para o novo concerto o que a circuncisão era para o velho manteve a prática do pedobatismo,e foi ferrenho opositor daqueles que o negavam.
Já Calvino(1509-1564) propôs um meio-termo entre a visão luterana e a zuingliana.Ele aceitava que o batismo era símbolo.Mas cria também que o mesmo era um "meio de graça"(embora não do mesmo modo que Lutero).Calvino também defendia o pedobatismo baseando-se no argumento da circuncisão.Fortemente influenciado por Agostinho(em cujos estudos encontrou argumentos para defender,entre outras coisas,a doutrina bíblica da predestinação incondicional),dizia que o batismo é um testemunho,um símbolo da remissão dos pecados.Se as crianças já nasciam pecadoras,obviamente deveriam ser batizadas!
A igreja protestante da Inglaterra(Anglicana) manteve também a prática do batismo infantil).
Nos séculos que se seguiram,a discussão continuou a existir.No entanto,os que defendiam e os que condenavam o batismo infantil passaram a viver de forma mais cordial.Por exemplo,nó séc. XVII,o pastor batista John Bunyan(famoso autor de "O Peregrino") recebia em sua igreja cristãos batizados na infância sem exigir o rebatismo.
Hoje em dia,a discussão ainda prossegue.Presbiterianos,reformados continentias,anglicanos,metodistas e luteranos praticam o batismo infantil.Batistas e pentecostais só batizam adultos.
Nós reformados,defendemos o batismo de crianças,visto que o consideramos como bíblico.Conforme diz a Confissão de Fé de Westminster(documento do séc. XVII usado pelas igrejas presbiterianas como explicação de sua fé, baseada nas Escrituras):“Não só os que de fato professam a  sua fé em Cristo e obediência a ele; mas  também os filhos de pais crentes (ainda que só um deles o seja) devem ser batizados”
No próximo artigo sobre batismo trataremos da questão: Qual é a forma correta de batismo?

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