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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

CORAÇÃO DE PEDRA: UMA REFLEXÃO PARA A QUARTA-FEIRA DE CINZAS


"E por causa das suas dores, e por causa das suas chagas, blasfemaram o Deus do céu; e não  se arrependeram das suas obras." 

(Apocalipse 16.11)

            Quarta-feira de Cinzas. Hoje é dia de recordar a nossa fragilidade, os nossos pecados e a necessidade do arrependimento. O chocante versículo com o  qual inicio esta reflexão, longe de sugerir um Deus vingativo e vaidoso, nos traz uma lição preciosa. Quem tem ouvidos para ouvir, perceberá aqui uma chocante realidade.

            Os homens são marcados com os valores mundanos, participam do derramamento de sangue inocente e recusam a oportunidade de conversão (mudança completa de percurso). Transgredindo todos os mandamentos divinos, inflamados pela cobiça e crueldade, ainda assim se recusam a abraçar a verdade. Eles conhecem a verdade, mas continuam blasfemando contra Deus. Há um "problema de coração". Tais homens possuem um "coração de pedra".

            Desde o final do ano de 2019, quando começou a propagação do coronavirus, a maldade humana pôde ser vista claramente em diversos episódios. O negacionismo, a busca do lucro fácil, a propagação de fake news, jogos de interesses, a incompetência de alguns governantes mundiais, o egoísmo e a frieza com os quais inúmeras mortes foram tratadas. Com algumas exceções, não houve mudança significativa nos corações das pessoas. Quem interpretou a pandemia como uma "pedagogia divina",que nos ensinaria o amor e a solidariedade, teve uma completa decepção. O que ocorreu de fato  foi a revelação de muitas coisas ocultas. Muitos deixaram a máscara cair, revelando as reais intenções por trás de seus discursos piedosos e moralistas. Caindo a máscara das ovelhas, pudemos contemplar muitos bodes.. Muitos tiraram as máscaras em aglomerações, em descaso para com o próximo. Recusando as máscaras de tecido e as medidas de isolamento, tripudiaram sobre as pessoas que morreram. Posso ouvir pessoas dizendo: Fazer o quê?  Todos nós vamos morrer um dia, não?

            Cada vez mais a natureza tem clamado contra as agressões sofridas. Como se fosse um ser vivo, ela demonstra o seu sofrimento e descontentamento para conosco. Emissão de poluentes, consumo desenfreado de recursos, descarte incorreto de resíduos, abuso do solo, extinção de espécies animais e vegetais...A conta dos nossos pecados haveria de chegar. Era apenas uma questão de tempo. Conforme escreveu o apóstolo Paulo,"De Deus não se zomba. O que o homem plantar, isto ele ceifará". (Gl 6;7)

        Quando  a contaminação de humanos pelo SARS-CoV-2 começou, como reagimos? Abafando informações, circulando despreocupadamente, negligenciando o perigo  e inventando teorias de conspiração. Quando a epidemia tornou-se uma pandemia, quando os índices de contaminação e morte dispararam, acaso nós nos convertemos de nossos caminhos incorretos?

        De modo algum! Continuamos as nossas más obras. Incêndios florestais, poluição das águas, abusos econômicos, venda de produtos fraudulentos, cobiça por dinheiro, propagação de mentiras, descaso para com os necessitados, egocentrismo. Blasfemamos contra Deus, atribuindo à Ele um caráter tão mesquinho e vingativo, que o fez parecer semelhante aos falsos pastores das "mega-igrejas"! Segundo tal discurso, Deus teria se irritado com coisas "imorais". como o ateísmo, o islamismo e o "homossexualismo", ou  até mesmo com um certo  desfile de Carnaval. Não obstante tudo isso existir há muito tempo, parece que só agora ele ficou ofendido!

        Antes que me interpretem de maneira errada, preciso enfatizar algo. Para isso, faço minhas as palavras do Prof. Kyle Schiefelbein-Guerrero ; "Deixe-me ser claro aqui - não quero dizer que a pandemia seja um castigo pelo pecado, mas antes que a propagação da pandemia foi facilitada pelos pecados da "negligência das necessidades e sofrimento humanos" e nossa "falta de preocupação para com aqueles que virão depois de nós."1

           No grande livro da Revelação da História, as taças e trombetas se sucedem. Nem a peste, nem a fome, nem as guerras e nem os terremotos são capazes de levar os homens ao arrependimento. Eles levantam os punhos contra os céus e blasfemam contra a Palavra de Deus. Ao mesmo tempo, chamam de Cristo os ídolos abomináveis que eles mesmos criaram. Correm para a Geena, o lago do inextinguível tormento, com a pressa de um porco faminto, o alarido de uma criança de birrenta e a presunção convicta que apenas os tolos possuem.

          Não se iludam, meus caros. A humanidade nunca mudará. Nem o próprio Deus se ilude a respeito disso (Gn 6.5). Cada um de nós deve se contentar em olhar para Cristo. Buscar obter dele ao menos um pouco de mudança no  próprio ser. Quando uma centelha da luz divina resplandece em um homem, ela acabará transformando a sua vida, e iluminará os que estão nas trevas ao redor. Quando se encontram dois ou três seres humanos com suas  pequenas centelha, um grande farol começa a ser edificado. O fermento leveda a massa. Se eu e você temos experimentado alguma transformação espiritual, por menor que seja, é unicamente por graça divina.

        Desistam de tentar mudar o mundo. Apenas assim você poderá começar a mudá-lo realmente. Não é possível curar os outros de seu "problema de coração". Apenas o Espírito Santo pode fazê-lo (Jo 16.7-8). Porém, se eu e você deixarmos nossos corações de pedra ao pé da cruz, eles tornarão a pulsar. A partir de tais pedras vivas, edificadas sobre a Rocha eterna, o Reino de Deus se manifestará entre nós.


1. Artigo Reflections os Ashes Wednesday Worship in 2021. Extraído do blog da Evangelical Lutheran Church in America. Disponível em: https://blogs.elca.org/worship/3266/  Acesso: 16/02/2021 - 11:23 

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