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quarta-feira, 19 de agosto de 2020

19/08 - Bernardo de Claraval, Abade e Teólogo


"Queres então saber de mim por qual motivo e em que medida devemos amar a Deus? Bem, digo que o motivo de nosso amor por Deus é o próprio Deus, e que a medida desse amor é amar sem medida"  

(De Diligendo Deo).

        Bernardo nasceu em Fontaines, França, no ano de 1090. Pertencia a uma família nobre. Aos 22 anos, tornou-se monge da Ordem Cisterciense, conhecida por sua austeridade.  Convenceu outros 30 jovens, entre familiares, parentes e amigos, a fazer amesma coisa. Aliando profunda inteligência, sagacidade e zelo, com uma vida humilde, profunda espiritualidade, oração continua e misticismo , destacou-se rapidamente entre os irmãos. Após três anos, foi comissionado para fundar outro mosteiro cisterciense, denominado Clairvaux (Claraval, na adaptação para a língua portuguesa).

        A expansão da ordem se deu de maneira assombrosa sob a liderança de Bernardo. Mais de duzentos mosteiros foram organizados por toda a Europa. Tornou-se um líder respeitado, conselheiro de reis e papas, e grande autoridade nos assuntos da fé. Seu fervor, que muitas vezes chegava ao extremo, acabou gerando uma série de conflitos. Os clunicaenses (conhecidos como “monges negros”), ordem que prezava pela arte sacra, pela estética e pela glória, se queixava da rigidez dos cistercienses. Após várias discussões e trocas de epístolas, conseguiram uma reconciliação. Seu choque com Pedro Abelardo, professor de teologia e filósofo escolástico, famoso por sua argumentação poderosa, por seu pensamento próprio e pelo seu romance com a adolescente Heloisa (sobrinha de um cônego), além de introduzir elementos suspeitos na teologia, ficou famoso. Num estranho episódio, após fugir de um debate com Bernardo (cuja teologia pendia mais para o lado monástico, ortodoxo, tradicional, místico e pastoral), caiu em ostracismo. Bernardo também combateu as heresias albigense e petrobrussiana.

            Entre as ênfases teológicas do abade estavam: o amor puro e desinteressado a Deus (que ele expõe no tratado De Diligendo Deo); o progresso na vida espiritual; a salvação pela misericórdia e graça divina; a primazia da fé na salvação (por isso, era o doutor monástico favorito dos reformadores); a importância da Lectio Divina (leitura continua e perseverante das Escrituras, acompanhada de oração e meditação), os sermões bíblicos; o papel espiritual da Virgem Maria na vida cristã (nos aspectos teológico, litúrgico e devocional). Seu estilo poético e doce lhe rendeu o epíteto de “Doctor Mellifluus”. Entre suas obras literárias, restam 547 cartas, 125 sermões para o Ano Litúrgico, 86 Sermões sobre o Cânticos dos Cânticos, sermões diversos, alguns livros (De Diligendo Deo; Opúsculo sobre o Livre-arbítrio; Os Graus da humildade e da soberba, etc), orações e hinos (um dos quais, inclusive, foi parafraseado em “Ó Fronte Ensanguentada”).

            Apesar de sua conhecida ênfase no amor e na doçura provenientes da fé, Bernardo foi o arquiteto da Segunda Cruzada, após os muçulmanos derrubarem o Condado de Edessa. Foi ele quem deu a base ideológica para a formação da Ordem dos Pobres Cavaleiros (Ordem Templária), com o estranho conceito de monges pegando em armas em nome da fé. Foi um homem que viveu  as contradições entre um mundo em constantes guerras, brutalidade e superstições, mas que buscava no divino a elevação, o amor abnegado e a sublimidade ética. Sua defesa dos judeus, contras falsas acusações e massacres, rendeu-lhe elogio por parte de rabinos. Manteve amizade espiritual com uma mulher, Santa Hildegarda, e estimulou sua atividade teológica, mística e pastoral.

        Faleceu em 1153, considerado um homem santo, embora com sua credibilidade parcialmente desgastada devido ao fracasso dos exércitos europeus na Cruzada pregada por ele.

        Bernardo foi muito admirado por Lutero, que lhe dedica tributo de respeito no tratado Do Cativeiro Babilônico. Também foi um dos teólogos preferidos de João Calvino. Atualmente, é considerado santo pela Igreja Católica Romana, na qual também pertence ao rol dos trinta e seis “Doutores”. Bernardo sempre foi muito querido e respeitado na tradição evangélica luterana. Está em diversos calendários litúrgicos luteranos, e diversas de suas ideias nos são familiares. No entanto, sua excessiva devoção mariana, a defesa da "teologia dos dois gládios",a teoria da "guerra santa" e sua crença na soberania do papa constituem elemento intragáveis para um evangélico luterano.

    Oremos, com as seguintes palavras, adaptadas do site da Our Redemeer Lutheran Church

    Ó Deus,

Inflamado com o fogo do amor, teu servo Bernardo de Claraval tornou-se uma ardente e brilhante luz em     tua Igreja. Por tua misericórdia, concedei que nós também sejamos inflamados com o espírito de amor e disciplina, e possamos sempre caminhar em tua presença como filhos da luz; por Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

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