(Ano A) - 2020
Leituras bíblicas: Gn 1.1-2.4ª; Sl 8; 2Co
13.11-13; Mateus 28.16-20
“Todo aquele que quer ser salvo, antes de tudo deve professar a fé
católica (universal). Quem quer que não a conservar íntegra e inviolada, sem
dúvida perecerá eternamente. E a fé católica consiste em venerar um só Deus na
Trindade e a Trindade na unidade, sem confundir as pessoas e sem dividir a substância.”
(Trecho inicial do “Credo Atanasiano”, professado por diversas Igrejas Cristãs,
como a Luterana).
Estou firmado e
deposito todas as minhas esperanças na existência de um só Deus (Dt 6.4; Mc
12.29; Ef 4.5; ITm 2.5). O Deus eterno é trino, formado pelas hipóstases ( ou
pessoas) do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Nm 6.24-26; Sl 33.6; Is 6.3; Mt
3.16-17; Mt 28.19; Mc 1.9-11; 2Co 13.14;)
e uno (as pessoas estão unidas substancialmente, de maneira que há
apenas um Deus). O Pai é Deus (II Co 1.3; Gl 1.3; Fp 1.2), o Filho é Deus (Sl
45.6; Lc 1.43; Jo 1.1; Jo 20.28; Rm 9.5; Tt 2.13; Hb 1.6; 1Jo 5.20) e o Espírito Santo
é Deus (Sl 139.7; Mc 3.28-29. At 5.3-4; 1Co 2.10; 2Co 3.17). Contudo não há
três deuses, mas apenas um Deus. Aceito as definições trinitarianas dos credos
Niceno-constantinopolitano e Atanasiano como as melhores descrições do Deus
vivo e verdadeiro. Cristo é verdadeiro Deus, que assumiu a natureza humana para
a nossa salvação (Jo 1). O Espírito Santo também é um ser pessoal e divino,
nosso guia e Consolador.
Não existe
analogia perfeita para explicar esse sagrado mistério. No entanto, podemos
perceber que a natureza e nosso próprio ser estão cheios de “vislumbres-relâmpago”
da Trindade. Os antigos entendiam que a unidade de nossa mente conta com três
"personagens": memória, intelecto e vontade. Numa relação de amor,
sempre há aquele que ama, o amado e o amor entre ambos1. A família
também lembra vagamente a Trindade, pois é composta do provedor original, da
companheira feita de sua costela, e da prole gerada para a glória de Deus2,
A fé em um Deus
único, porém trino é algo demasiadamente maravilhoso para a mente humana. Mas,
como disse Santo Agostinho, se compreender a Trindade custa a nossa mente, negá-la, custará nossa alma. Essa é a fé ensinada nas Escrituras, de forma
velada e simbólica no Antigo Testamento, mas de forma explícita no Novo. Essa
era a fé da Igreja primitiva, selada pelo sangue dos mártires, confirmada pelos
dois primeiros grandes concílios gerais do cristianismo e pregada pelos Pais.
Essa fé é o escudo dos fiéis, o galardão dos confessores, a esperança dos aflitos, o consolo dos
tristes, o cântico dos vencedores, a glória dos anjos, o esplendor do universo.
Ela transforma o deserto abrasador do coração humano num jardim mais florido
que o Éden. Somente a doutrina da Santíssima Trindade explica como Deus pode
ter amado desde sempre (a quem iria amar, se havia apenas Ele?)- pois Ele é
amor em essência (1Jo 4.16);Quão maravilhoso é um Deus que exerce sobre si
mesmo o justo castigo do pecado no plano da redenção(e não o faz escolhendo um
inocente alheio); e como as glórias e honras que as Escrituras tributam a Jesus
Cristo e ao Espírito Santo (e são muitas!) não violam o princípio de adoração
ao Deus único.
"Pai, Filho
e Espírito Santo". Mais do que "Deus Altíssimo"3,
mais do que "Yahweh"4, mais do que "O Clemente"5.
Os cristãos conhecem a mais perfeita descrição do Criador e Sustentador do
mundo, e em nome dEle são lavados de seus pecados pela fé e pelo batismo.
Glória e louvor, agora e eternamente, ao Deus Triúno, O Pai Ingênito, o Filho
eternamente gerado do Pai e o Espírito que de ambos procede. Amém!
A TRINDADE E A
LITURGIA
O termo
“Trindade” não se encontra nas Escrituras. Foi criado pelo teólogo latino
Tertuliano (que viveu nos séculos II e III) para expressar uma doutrina que
permeava todas as Escrituras e a prática litúrgica da Igreja desde o tempo dos
Apóstolos. Na epístola de Clemente (c. 96 d.C.), nas cartas de Inácio (início
do séc. II), no Didaquê (séc. II)6 e nos escritos de Justino
(segunda metade do séc. II)7, entre outros, podemos ver as três
Pessoas divinas associadas de maneiras inequívoca, adoradas em conjunto e
apresentadas como co-autoras do plano de salvação. Os Concílios de Niceia (325
d.C) e Constantinopla (381 d.C) apenas organizaram uma doutrina que era
essencial à Igreja desde sempre.
As Escrituras
ordenam que o sacramento do Santo Batismo seja feito em nome da Trindade (Mt
28.19-20). A Tradição cristã também realiza o início dos cultos, a absolvição
(tanto a coletiva, no culto público, quanto a privada, no sacramento da
Confissão) e a benção final em nome da Trindade8. O antiquíssimo
hino “Gloria Patri”9, cantado nos cultos de diversas Igrejas (como a
minha – IECLB), expressa perfeitamente a perenidade de uma práxis litúrgico-doutrinária
trinitária na Igreja. O Sinal da Cruz também é associado a invocação do nome da
Trindade10.
Como fazer o Sinal da Cruz, na maneira Ocidental (Em uso nas Igrejas Romana, Luterana e Anglicana) |
SÍMBOLOS
Diversos símbolos
visuais são associados a doutrina da Trindade. O “Escudo da Trindade”, de
origem medieval, é encontrado em diversos monumentos e brasões cristãos. S.
Patrício, missionário
responsável pela evangelização da Irlanda, usou a folha
de trevo como uma forma de analogia da doutrina, ao explicá-la para os
habitantes locais (embora, como já vimos todas, as analogias possíveis não
cheguem nem perto da precisa expressão deste mistério de fé). O mesmo Patrício
escreveu uma famosa oração matutina invocando a proteção da Trindade. A “Triquetra”,
símbolo celta-germânico de origem pré-cristã, associado ao culto primitivo da
deusa-mãe (e utilizado também, com diversos significados, por grupos ocultistas),
foi incluído na simbologia cristã medieval, num processo de aculturação (assim
como diversos outros símbolos e termos da teologia cristã).
O símbolo conhecido como "Triquetra". |
Santo! Santo!
Onipotente!
Deus supremo Criador.
Nós agora, reverentes,
Nos prostramos, ó
Senhor
Majestade gloriosa
És Senhor da terra e
céu
Ante o trono
esplendoroso
Nos curvamos, santo
Deus.
Amoroso e justiceiro,
Poderoso Rei dos Reis
Gloriosa é a tua
presença
Boa e santa é a Tua
lei
És perfeito e tão
piedoso
És o verdadeiro Deus.
Homens vis e
pecadores
Transformaste em
servos Teus
Pai eterno e poderoso
Te louvamos com
fervor.
Cristo santo te
adoramos,
Ès o nosso Salvador
E ao Consolador
bendito,
O vigário de Jesus
Glória eterna ao Deus
triúno,
Nossa vida, nossa luz!
(Giovani Aguiar)
NOTAS E REFERÊNCIAS:
1.
AGOSTINHO, Santo . A Trindade Coleção Patrísitca
. Ed. Paulus
2. KREEFT, Peter em Jesus, o
maior Filósofo que Já Existiu . Ed. Petra. Kreeft comenta a narrativa do livro de Gênesis.
3. (Heb: עליון אל transl. El
‘Elyon) Um dos primeiros títulos
de Deus utilizados na Bíblia. Melquisedec, sacerdote-rei de Salem, usou-o para
abençoar o patriarca Abraão (Gn 14.18-19)
4. Nome derivado da raíz hebraica יהוה (YHWH), associado ao termo “EU SOU O QUE SOU” (Ex 3.14), revelado por
Deus em íntima associação com a Antiga Aliança. Era tão sagrado para os antigos
hebreus, que só poderia ser pronunciado, uma vez por ano, pelo sumo-sacerdote,
no Lugar Santíssimo
5. (Do ár. ٱلْرَّحْمَـانُ transl. Al Rahman) Um dos principais nomes para Deus no Alcorão,
livro sagrado do Islamismo (que, ao lado do judaísmo e do cristianismo, é uma
das três grandes religiões monoteístas abraâmicas)
6.
Padres Apostólicos. Coleção Patrísitca. Ed. Paulus
7.
JUSTINO DE ROMA, Col. Patrística. Ed. Paulus
8. Liturgia completa
ilustrativa. Portal Luteranos. Disponível em: https://www.luteranos.com.br/conteudo_organizacao/celebracao-liturgia/culto-liturgia-modelo Acesso em: 06/06/2020 às 19:31
9. “Glória seja dada ao Pai,
ao Filho e ao Espírito Santo. Como era no princípio, agora e sempre, e pelos
séculos dos séculos. Amém.”
10. No seu Catecismo Menor, Lutero dá a seguinte
orientação: “De manhã, quando acordares,
deves abençoar a ti mesmo com o sinal da cruz e dizer: “Que isto me conceda
Deus o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Amém”. É necessário ressaltar, no
entanto, que os luteranos não fazem o sinal da cruz como superstição ou mágica,
e sim como lembrança, oração e profissão de fé.
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