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sábado, 6 de junho de 2020

07/06/2020 COMEMORAÇÃO DA SANTÍSSIMA TRINDADE


          (Ano A) - 2020
          Leituras bíblicas: Gn 1.1-2.4ª; Sl 8; 2Co 13.11-13; Mateus 28.16-20
 
O símbolo conhecido como "Escudo da Trindade".
“Todo aquele que quer ser salvo, antes de tudo deve professar a fé católica (universal). Quem quer que não a conservar íntegra e inviolada, sem dúvida perecerá eternamente. E a fé católica consiste em venerar um só Deus na Trindade e a Trindade na unidade, sem confundir as pessoas e sem dividir a substância.” (Trecho inicial do “Credo Atanasiano”, professado por diversas Igrejas Cristãs, como a Luterana).

Estou firmado e deposito todas as minhas esperanças na existência de um só Deus (Dt 6.4; Mc 12.29; Ef 4.5; ITm 2.5). O Deus eterno é trino, formado pelas hipóstases ( ou pessoas) do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Nm 6.24-26; Sl 33.6; Is 6.3; Mt 3.16-17; Mt 28.19; Mc 1.9-11; 2Co 13.14;)  e uno (as pessoas estão unidas substancialmente, de maneira que há apenas um Deus). O Pai é Deus (II Co 1.3; Gl 1.3; Fp 1.2), o Filho é Deus (Sl 45.6; Lc 1.43; Jo 1.1; Jo 20.28; Rm 9.5; Tt 2.13; Hb 1.6; 1Jo 5.20) e o Espírito Santo é Deus (Sl 139.7; Mc 3.28-29. At 5.3-4; 1Co 2.10; 2Co 3.17). Contudo não há três deuses, mas apenas um Deus. Aceito as definições trinitarianas dos credos Niceno-constantinopolitano e Atanasiano como as melhores descrições do Deus vivo e verdadeiro. Cristo é verdadeiro Deus, que assumiu a natureza humana para a nossa salvação (Jo 1). O Espírito Santo também é um ser pessoal e divino, nosso guia e Consolador.

Não existe analogia perfeita para explicar esse sagrado mistério. No entanto, podemos perceber que a natureza e nosso próprio ser estão cheios de “vislumbres-relâmpago” da Trindade. Os antigos entendiam que a unidade de nossa mente conta com três "personagens": memória, intelecto e vontade. Numa relação de amor, sempre há aquele que ama, o amado e o amor entre ambos1. A família também lembra vagamente a Trindade, pois é composta do provedor original, da companheira feita de sua costela, e da prole gerada para a glória de Deus2,

A fé em um Deus único, porém trino é algo demasiadamente maravilhoso para a mente humana. Mas, como disse Santo Agostinho, se compreender a Trindade custa a nossa mente, negá-la, custará nossa alma. Essa é a fé ensinada nas Escrituras, de forma velada e simbólica no Antigo Testamento, mas de forma explícita no Novo. Essa era a fé da Igreja primitiva, selada pelo sangue dos mártires, confirmada pelos dois primeiros grandes concílios gerais do cristianismo e pregada pelos Pais. Essa fé é o escudo dos fiéis, o galardão dos confessores,  a esperança dos aflitos, o consolo dos tristes, o cântico dos vencedores, a glória dos anjos, o esplendor do universo. Ela transforma o deserto abrasador do coração humano num jardim mais florido que o Éden. Somente a doutrina da Santíssima Trindade explica como Deus pode ter amado desde sempre (a quem iria amar, se havia apenas Ele?)- pois Ele é amor em essência (1Jo 4.16);Quão maravilhoso é um Deus que exerce sobre si mesmo o justo castigo do pecado no plano da redenção(e não o faz escolhendo um inocente alheio); e como as glórias e honras que as Escrituras tributam a Jesus Cristo e ao Espírito Santo (e são muitas!) não violam o princípio de adoração ao Deus único.

"Pai, Filho e Espírito Santo". Mais do que "Deus Altíssimo"3, mais do que "Yahweh"4, mais do que "O Clemente"5. Os cristãos conhecem a mais perfeita descrição do Criador e Sustentador do mundo, e em nome dEle são lavados de seus pecados pela fé e pelo batismo. Glória e louvor, agora e eternamente, ao Deus Triúno, O Pai Ingênito, o Filho eternamente gerado do Pai e o Espírito que de ambos procede. Amém!

A TRINDADE E A LITURGIA

O termo “Trindade” não se encontra nas Escrituras. Foi criado pelo teólogo latino Tertuliano (que viveu nos séculos II e III) para expressar uma doutrina que permeava todas as Escrituras e a prática litúrgica da Igreja desde o tempo dos Apóstolos. Na epístola de Clemente (c. 96 d.C.), nas cartas de Inácio (início do séc. II), no Didaquê (séc. II)6 e nos escritos de Justino (segunda metade do séc. II)7, entre outros, podemos ver as três Pessoas divinas associadas de maneiras inequívoca, adoradas em conjunto e apresentadas como co-autoras do plano de salvação. Os Concílios de Niceia (325 d.C) e Constantinopla (381 d.C) apenas organizaram uma doutrina que era essencial à Igreja desde sempre.

As Escrituras ordenam que o sacramento do Santo Batismo seja feito em nome da Trindade (Mt 28.19-20). A Tradição cristã também realiza o início dos cultos, a absolvição (tanto a coletiva, no culto público, quanto a privada, no sacramento da Confissão) e a benção final em nome da Trindade8. O antiquíssimo hino “Gloria Patri”9, cantado nos cultos de diversas Igrejas (como a minha – IECLB), expressa perfeitamente a perenidade de uma práxis litúrgico-doutrinária trinitária na Igreja. O Sinal da Cruz também é associado a invocação do nome da Trindade10.
Como fazer o Sinal da Cruz, na maneira Ocidental (Em uso nas Igrejas Romana, Luterana e Anglicana)

SÍMBOLOS

Diversos símbolos visuais são associados a doutrina da Trindade. O “Escudo da Trindade”, de origem medieval, é encontrado em diversos monumentos e brasões cristãos. S. Patrício, missionário
O símbolo conhecido como "Triquetra".
responsável pela evangelização da Irlanda, usou a folha de trevo como uma forma de analogia da doutrina, ao explicá-la para os habitantes locais (embora, como já vimos todas, as analogias possíveis não cheguem nem perto da precisa expressão deste mistério de fé). O mesmo Patrício escreveu uma famosa oração matutina invocando a proteção da Trindade. A “Triquetra”, símbolo celta-germânico de origem pré-cristã, associado ao culto primitivo da deusa-mãe (e utilizado também, com diversos significados, por grupos ocultistas), foi incluído na simbologia cristã medieval, num processo de aculturação (assim como diversos outros símbolos e termos da teologia cristã).






 
Santo! Santo! Onipotente!
Deus supremo Criador.
Nós agora, reverentes,
Nos prostramos, ó Senhor
Majestade gloriosa
És Senhor da terra e céu
Ante o trono esplendoroso
Nos curvamos, santo Deus.

Amoroso e justiceiro,
Poderoso Rei dos Reis
Gloriosa é a tua presença
Boa e santa é a Tua lei
És perfeito e tão piedoso
És o verdadeiro Deus.
Homens vis e pecadores
Transformaste em servos Teus

Pai eterno e poderoso
Te louvamos com fervor.
Cristo santo te adoramos,
Ès o nosso Salvador
E ao Consolador bendito,
O vigário de Jesus
Glória eterna ao Deus triúno,
Nossa vida, nossa luz!

(Giovani Aguiar)




NOTAS E REFERÊNCIAS:


1.      AGOSTINHO, Santo . A Trindade  Coleção Patrísitca . Ed. Paulus
2.       KREEFT, Peter em   Jesus, o maior Filósofo que Já Existiu . Ed. Petra. Kreeft comenta a narrativa do livro    de Gênesis.
3.   (Heb: עליון אל  transl. El ‘Elyon) Um dos primeiros títulos de Deus utilizados na Bíblia. Melquisedec, sacerdote-rei de Salem, usou-o para abençoar o patriarca Abraão (Gn 14.18-19)
4.      Nome derivado da raíz hebraica יהוה (YHWH), associado ao termo “EU SOU O QUE SOU” (Ex 3.14), revelado por Deus em íntima associação com a Antiga Aliança. Era tão sagrado para os antigos hebreus, que só poderia ser pronunciado, uma vez por ano, pelo sumo-sacerdote, no Lugar Santíssimo
5.      (Do ár.  ٱلْرَّحْمَـانُ   transl.  Al Rahman) Um dos principais nomes para Deus no Alcorão, livro sagrado do Islamismo (que, ao lado do judaísmo  e do cristianismo, é uma das três grandes religiões monoteístas abraâmicas)
6.       Padres Apostólicos. Coleção Patrísitca. Ed. Paulus
7.       JUSTINO DE ROMA, Col.  Patrística. Ed. Paulus
8.    Liturgia completa ilustrativa. Portal Luteranos. Disponível em: https://www.luteranos.com.br/conteudo_organizacao/celebracao-liturgia/culto-liturgia-modelo  Acesso em:  06/06/2020 às  19:31
9.      “Glória seja dada ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Como era no princípio, agora e sempre, e pelos séculos dos séculos. Amém.”
10.   No seu Catecismo Menor, Lutero dá a seguinte orientação: “De manhã, quando acordares, deves abençoar a ti mesmo com o sinal da cruz e dizer: “Que isto me conceda Deus o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Amém”. É necessário ressaltar, no entanto, que os luteranos não fazem o sinal da cruz como superstição ou mágica, e sim como lembrança, oração e profissão de fé.

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