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quinta-feira, 4 de maio de 2017

Lex orandi, lex credenti

Existe uma frase latina de grande significado no estudo de liturgia. "Lex orandi, lex credenti". O que ela significa? "A norma da oração é a norma da crença". Ainda não entendeu? De fato, é algo um tanto desconhecido por nós protestantes brasileiros. Essa sentença expressa que a liturgia da igreja é a imagem de sua fé, e há uma influência recíproca entre ambas. E foi isso que pudemos ver d
urante a maioria da história do Cristianismo. A própria seleção dos livros do cânon do Novo Testamento foi baseada, em parte, pelo uso destes na liturgia da Igreja primitiva. Chegando aos nossos dias, temos vários exemplos: a Igreja

Ortodoxa, em sua "Divina Liturgia" revela de forma aberta os diversos nuances de sua fé(a Santíssima Trindade, a encarnação de Cristo, a natureza do sacerdócio, o papel dos santos falecidos, etc.).Muitas congregações católicas romanas mostram a grande mudança ocorrida a partir do Concílio do Vaticano II substituindo a velha "Missa Tridentina" pela "Missa de Paulo VI "(como o aumento da atuação do laicato, possibilitado, entre outros, pela tradução da missa nos vernáculos). No entanto, entre as igrejas protestantes, a situação é muito nebulosa. Ora, sabemos que em matéria de liturgia, qualquer coisa pode ser vista entre os protestantes. De um lado, o ajoelhar ao receber a santa ceia. De outro, batismos no toboágua. De um lado, pastores com togas e estolas. De outro, pastores vestidos como o Chapolin Colorado (ou o Batman). Mas não pretendo tratar de questões muito complexas. Apenas de alguns pontos comuns entre a maioria dos evangélicos, e indigestos caroços que se propagam a cada domingo em nossas igrejas. Vejamos:

Os louvores: Conforme expressado pelo escritor Franklin Ferreira em seu livro "O Credo dos Apóstolos", boa parte de  nossos hinos seriam cantados sem problemas por espíritas e mulçumanos, visto que são neutros demais em relação aos grandes dogmas da fé cristã ortodoxa. Só se fala da benção de Deus, do cuidado de Deus e outros assuntos periféricos. Ora, tais temas estão dentro do escopo da fé cristã, e podem ser utilizados, mas na medida certa. Precisamos voltar a cantar: "Santo! Santo! Santo! Nosso Deus Triúno"; "Sempre a cruz, Jesus, meu Deus, queiras recordar-me" e outros que falam da natureza de Deus, das doutrinas da criação e da redenção em Cristo.
Existe, no entanto, casos piores: hinos abertamente heréticos sendo utilizados em cultos, de modo que em muitas igrejas tradicionais e pentecostais nominalmente sérias, podemos nos sentir num culto neopentecostal, com todo o triunfalismo da teologia da prosperidade. Os crentes exigem: "Hoje o meu milagre vai chegar", "Restitui! Eu quero de volta o que é meu" entre outras bravatas. Recentemente, comentei no Facebook a respeito de um hino que nos ensina a "pagar o preço                                         " para ir para o céu. Qualquer protestante com um pouco de conhecimento teológico sabe que o principal motivo da Reforma foi a recusa de Roma em aceitar a doutrina da "salvação pela fé apenas" (sola fide).
As orações: Geralmente, nas igrejas evangélicas, as orações não são recitadas, mas espontâneas. O que, por vezes, é um tiro no pé. Em nome da "liberdade do Espírito", os dirigentes de nossos cultos permitem que verdadeiras aberrações teológicas sejam ditas por irmãos sem muito discernimento que são escolhidos para elevarem a voz da Igreja em oração. A doutrina da Trindade é totalmente bagunçada nas preces, elementos da já citada teologia da prosperidade são propagados, e por vezes as denominações dos seres espirituais da Umbanda são utilizadas.
Os sermões: Temos visto as piores porcarias serem ditas em nossos púlpitos. Certos pregadores dizem que o diabo estuprou Eva no Éden. Há aqueles que afirmam que Jesus era rico. Outros contam testemunhos como aquele das galinhas batizadas com o Espírito Santo. E também, em relação a algo que ocorreu recentemente, é incrível ver como os pentecostais babam de raiva quando uma igreja dá a oportunidade do sermão a um padre católico romano, mas não veem problema algum em cedê-lo a um pregador neo pentecostal.
A Ceia do Senhor: Temos visto grande irreverência e uma enorme pobreza litúrgica da celebração dessa sublime ordenança do Cristianismo. Muitos pastores insistem em celebrá-la com KiSuco e pão de forma de péssima qualidade. Já que esta ceia é tão importante para nós, deveríamos celebrar com um pouco mais de solenidade, talvez utilizando-se de um só pão e um só cálice na hora da consagração, orações mais elaboradas e solenes por parte dos ministros (como é o costume tradicional do Cristianismo, datado de seus primórdios), hinos mais adequados e o uso da recitação do “Pai nosso”, oração ensinada pelo próprio Senhor Jesus.
Outras partes do culto: Entre outras práticas de nossas igrejas que são um verdadeiro desserviço á expressão da verdadeira fé, temos o tal do "reteté" e outras estranhas manifestações atribuídas ao Espírito Santo. Pensando que tal expressão representa o pentecostalismo autêntico, alguns irmãos acabam virando motivo de escândalo para outros irmãos e chacota para os ímpios.

Por fim, é necessária uma revisão nos aspectos do culto público em nossas igrejas. Este dever vir, primeiramente, do coração, mas deve também ser um “culto racional”, e expressar a beleza da contemplação da majestade de Deus. Devemos mostrar quem é o verdadeiro povo de Deus, que mantém a pura fé bíblica, conforme expressada nos credos da Igreja primitiva, e renovada pelo sopro da Reforma protestante e pelos grandes avivamentos no seio do Cristianismo. Nossas liturgias devem refletir os dogmas de nossa fé, não podemos deixa-las tão desordenadas a tal ponto de que, para um observador externo, estas não tenham diferença nenhuma daquelas praticadas por seitas e igrejas apóstatas.

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